Recebi uma ligação para fazer uma seleção de professores para um curso técnico. Não tinha a menor noção de como seria o processo de avaliação. Tampouco tive tempo para perguntar sobre a dinâmica.
No dia anterior ao teste, rascunhei algumas anotações e separei uma pasta com essas folhas. Pela manhã fui trabalhar normalmente e no intervalo do almoço, passaria em casa para comer algo e para colocar um sapato de salto com o objetivo de ficar mais elegante. Após a saída do trabalho, peguei uma condução super lotada com um engarrafamento terrível, por causa do feriado na semana seguinte.
Faltavam apenas quarenta minutos para minha entrevista, marcada para quatorze horas. Cheguei à minha casa correndo, precisava levar meu filho para a escola e caprichar no meu visual. O relógio, sem piedade, disparava os ponteiros tal qual uma prova de atletismo!
De volta à minha residência, tive a certeza de que não daria tempo para almoçar. Retoquei a maquiagem com leveza, peguei uma pera para comer na viagem e chamei um carro de aplicativo. Assim que me sentei, olhei para os meus pés e senti raiva por ter esquecido de trocar o calçado. Respirei fundo, o estômago doeu. Aproveitei para comer a suculenta fruta que já estava magoada na minha bolsa. Logo na primeira mordida caiu um pedacinho em minha blusa! Tentei secar com o pequeno guardanapo que também estava com o líquido da pera. Sem êxito, lá fui eu com a blusa manchada no peito.
Na sala da entrevista, procurei pela pasta. Não estava comigo. Havia deixado sobre o banco no momento em que tentava limpar a blusa. Sentada com a mão apoiando o queixo, posição estratégica para esconder a sujeira na roupa. E os pés? encolhi sob a cadeira minhas sapatilhas surradas.
Depois de uma agradável conversa com a supervisora do RH, fui para uma outra sala fazer o teste escrito. Ao ler as questões tive um acesso de risos! Eram todas as observações que eu tinha rascunhado! Constatei que coincidências não existem. Nada é por acaso. Retornando para casa, o carro chegou, e o motorista me recebeu com um sorriso com a pasta na mão dizendo: “Que sorte, hein?!”
Ivone Rosa
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