Ivone Rosa

UM BRINDE AO AMOR

Na sexta-feira passada, estive em uma loja de departamentos que me fez relembrar uma crônica famosa da querida, Marina Colassanti: “Eu sei, mas não devia”.

Observando os detalhes do nosso cotidiano, fazemos tantas coisas, nos submetemos às imposições de algumas regras que não estão certas!  Como por exemplo um motorista de ônibus que além de dirigir, é cobrador, mas também ascensorista. Certa vez vi esse profissional passando um sufoco, tentando fazer a tal escada descer para embarcar um cadeirante. O pobre homem estava muito nervoso sob protesto de alguns passageiros e o estresse de cumprir o horário da viagem em sua empresa.

Atualmente nos supermercados, somos nós que empacotamos nossas compras. Ficamos nas grandes filas e ainda pagamos pela sacola.

Foi o que aconteceu na loja onde eu aguardava pacientemente a minha vez no atendimento. Olhei para trás e percebi uma senhorinha com uma grande caixa em seu carrinho de compras. Sorri e pedi que ela passasse a minha frente, uma vez que se tratava de uma idosa. Isso é lei, não uma regra!

No breve momento em que esperávamos na fila, ela comentou a respeito do marido que era um homem muito habilidoso, fazia muitas coisas com madeira, consertava alguns eletrodomésticos e pintava quadros. Aquele kit era um presente para ele pelos dia dos namorados. Havia doçura em sua voz e um brilho no olhar típico de uma menina apaixonada. Fiquei emocionada diante de tanta ternura.

Durante o pagamento da compra ela perguntou à funcionária:

– Você pode embrulhar para presente?

– Não temos embalagem de presente, senhora. – respondeu de forma indiferente.

– Esses rolos ao seu lado, são para vender? Eu compro. – afirmou com sorriso.

A caixa registrou o papel e colocou em outra sacola. Quase em tom de choro a idosa falou:

– Por favor, é um presente. Você poderia embrulhar pra mim?

– Não senhora. Não fazemos embrulhos, aqui. – respondeu com a voz irritada.

– Qual é o lugar, por favor? Não posso chegar com o pacote aberto. É uma surpresa. Por favor. – implorou com um sorriso.

– Já disse que não fazemos, não podemos, senhora! – exclamou em tom mais alto.

– Ah, minha querida, por favor! Ele não pode ver…

Antes de qualquer resposta por parte da funcionária, eu respondi:

– Eu faço o embrulho para senhora. – afirmei em tom sério. Perguntei para as pessoas na fila:

–  Vocês aguardam um minutinho?

Sim, claro! – a resposta foi quase em coro, outros afirmaram com a cabeça.

Rapidamente fiz o embrulho, ali mesmo no balcão do caixa. Entreguei para a linda senhora. Ela me abraçou com muito carinho, agradeceu e saiu sorridente.

Fui embora sem comprar nada. Porém, bem feliz em testemunhar um amor atemporal.

 

 

Ivone  Rosa

Instagram: @profaivonerosa

junho/2023

Ref. imagem: https://pixabay.com/pt/photos/vinho-rosa-champanhe-

 

 

 

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Ivone Rosa

Professora de Literatura & Produção Textual Pós- Graduada em Gestão Educacional Roteirista formada pela Academia Internacional de Cinema-AIC/RJ Poetisa, cronista e contista 1º lugar - melhor intérprete Concurso Poesia SESC Niterói/RJ Menção Honrosa -Concurso Poesia -Duque de Caxias /RJ Participações: Antologia Diário da Poesia, Biografia Jornalista Jota Sobrinho, Diário em Poemas, Almas em prosa e verso, Coletânea Diários Escritos. Participações nos Fanzines: Poezine[Lit.na Varanda] e SerMentes - Sec.Educ.Niterói/RJ Palestrante Escola Pública sobre a Resistência da Mulher

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