LEMBRANÇAS
Há muitos anos não leio sonetos, pois, a simetria de suas palavras me faz lembrar a perfeição das linhas que desenham seu corpo, bem cintado em qualquer tecido.
Não leio mais poemas, pois, os versos que somados em dueto, dão vida à rima que fará deles um só corpo, me fazem lembrar os seus lábios perolados, que se tocam constantemente em mutua necessidade de redigirem as palavras que sempre saem na sonorização perfeita, entoadas no timbre doce de sua voz.
Não ouço mais canções, pois, o modo com que a melodia, os acordes e sons se entrelaçam me faz lembrar a fusão de nossas epidermes eriçadas, amolecendo na quentura um do outro, e renascendo no delírio que sempre se renova.
Não ouso mais aspirar os odores das rosas, pois, elas submetem minhas lembranças ao inesquecível frescor das fragrâncias que inundam as tranças de seus cabelos.
Não espreito mais as estrelas, pois, elas imitam o luzir de seus olhos, quando entumecidos de paixão, falavam-me mais do que qualquer palavra.
Odeio a chuva, pois, a avidez com a qual as gotas se precipitam para a fertilidade do solo, cientes de que morrerão no primeiro afago, porém, se eternizarão na semente fecundada. Faz-me lembrar das minhas sedentas caricias que aterrissavam no solo morno de sua pele.
Enfim, odeio a vida, com suas perfeições, mistérios e magia, já que ela imita sua beleza. E quando desesperadamente penso em morrer, lembro que odeio mais ainda a morte, pois ela tem o poder de cativar para sempre a alma de alguém, enquanto eu fui incapaz de cativar a sua, ainda que por uma simples vida inteira.
fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/pires-decorativos-perto-da-fotografia-da-noiva-na-mesa-4792359/
