Suplemento Araçá – Vol.02 – nº04 – Out./2022 – Crônicas & Opiniões: “UM BRINDE À ARTE” – Ivone Rosa

UM BRINDE À ARTE
Ivone Rosa[1]

Visitando as ruas do Rio Antigo, vejo um homem com olhos sorridentes às pequenas ruas da então capital do Brasil. Ele estava muito bem-vestido, com terno claro e chapéu panamá. O seu olhar não parecia concentrado em um único local, mirava para todas as imagens e simultaneamente através delas.

A seguir, sentou-se ao piano e tocou uma das mais belas composições de seu amigo Villa Lobos. A música inundou toda paisagem exposta na tela padronizada verde e amarela. Além das cores, havia formas, rostos, natureza, vida e beleza nesse discurso silencioso.

Em seu interior, a angústia já não crescia mais! O espaço do que era dor foi tomado pela riqueza da escrita. Seus poemas falam da nossa terra, nossos costumes e nosso povo. Antes, porém, ele precisava romper com o tradicionalismo acerca da construção perfeita com métrica e a graciosidade da forma.

Esse rompimento não desconstruiu obras pretéritas. A fragrância do novo embriagou o ar. Saiu do Rio de Janeiro e retomou à sua cidade amada, denominada de “noiva e apaixonada”. Após anos debruçados nesse projeto, ele se sentia pronto para exibir a nossa brasilidade.

Fechando o meu livro, encerrando a leitura sobre a Semana da Arte Moderna, descobri que Mário de Andrade abriu portas para a Liberdade.

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[1] É poeta, professora de Literatura, escritora, roteirista.

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