Giovanna Bayona

Tartarugando aos vinte e poucos anos.

Quando eu era pequena minha fábula favorita era da tartaruga e da lebre. Eu achava muito legal a tartaruga na história, pois mesmo sendo tão julgada ela só acreditou e seguiu em frente, fez o seu melhor sem se preocupar com a lebre ou qualquer outro animal, e isso fez com que ela vencesse a corrida.
Apesar de eu amar essa história sempre tive medo de tartaruga, sim esse é um dos medos mais estranhos pra se ter na vida, pois elas não são nem um pouco perigosas, porém toda vez que me lembro da jabuti que a vizinha da minha vó tinha eu sinto arrepios, vocês podem rir nessa parte do texto, eu deixo. Hoje em dia na minha brincadeira de me autoanálisar penso que esse medo é minha insegurança, porque na verdade sempre me enxerguei lerda como uma tartaruga. Sempre vi ela como um bichinho inofensivo apesar de minha aflição, afinal ela nunca me atacaria, pois eu corro, ela não, ou seja pra mim representava algo fraco, assim como eu.

Atualmente tenho sentido muita inveja das tartarugas, o medo ficou para trás, eu queria era ser como elas, assim como são descritas nas fábulas. Eu queria não ligar tanto pra opinião alheia, queria acreditar que o que eu faço é o melhor pra mim e isso já basta, eu queria não comparar meu progresso, minha velocidade, minha vida com as de outras pessoas. Como eu disse acima, a tartaruga ela não deixa nada abalar, nem mesmo quando ela se esconde no casco, aquilo é o amor próprio dela falando mais alto, não deixando ninguém a ferir.

Eu me sinto tão pequena, tão atrasada nos meus vinte e poucos anos, tenho a sensação que todos ao meu redor já conseguiram algo na vida que faça tudo valer a pena, tenho a sensação que todos estão conseguindo construir seus sonhos de um modo ou de outro, enquanto eu estou aqui parada, morrendo na praia. Sinto que nada que eu faço é o suficiente pra mostrar pro universo o quanto eu quero novas experiências, novas vivências, me sinto estacionada em hábitos que me machucam, que não consigo mudar porque apesar de ruins é tudo o que tenho e conheço. Me sinto estranha as vezes, ao ponto de ter um dos maiores bloqueios criativos da vida ( aliás, me perdoem o sumiço), me sinto impotente perante a mim mesma.

Eu só queria ser a tartaruga, fazer o meu melhor e progredir através disso e entender que tempo é muito relativo pra se avaliar qualquer progresso ou conquista.
Ficando mais perto do que longe dos trinta, quero até lá aprender a levar a vida tartarugando por aí, sendo destemida, fiel a mim mesma, e não ligando para que os outros pensam, pra quem sabe assim eu ganhar a minha primeira corrida, porém meu principal rival não é a lebre e sim o meu “Eu” ansioso. “Giovanna essa analogia é péssima” vocês devem estar pensando, mas pra mim tem funcionado como um soprinho de esperança pros dias de desânimo.

Que a gente possa ser mais tartaruga do que lebre, porque de gente apressada esse mundo já tá cheio, estamos vivendo uma era imediatista com redes sociais cheias de conteúdos rasos, ilusórios e com um pouco mais de vinte segundos, e a pior parte é que ninguém se da conta do quão perigoso é querer manipular o tempo apressando tudo. A gente não precisa de pressa, precisamos de atenção aos detalhes para aproveitar nosso tempo de verdade, de maneira preciosa assim como deve ser.

 

Meu Instagram: @giovanna.bayona

Fontes: 

Imagem destacada e interna: Foto de Magda Ehlers no Pexels – https://www.pexels.com/pt-br/foto/foto-aproximada-da-tartaruga-de-galapagos-1201431/

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Giovanna Bayona

Giovanna Bayona escreve desde dos 16 anos para se encontrar e entender seus sentimentos, porém só com 22 anos se reconheceu como escritora e começou a divulgar suas crônicas e algumas poesias nas redes sociais, o que abriu portas para alguns projetos literários como a participação no quadro Saideira (2020) e no Sarau das Mulheres (2021) ambos no Canal Literaweb no Youtube. Possui participações em duas antologias da Editora Psiu e também participou da primeira edição da Coletânea Palavra em Ação da Editora Jornal Alecrim (2021). Agora também colunista da Revista Entre Poetas & Poesias pretende continuar expandindo sua escrita para todos que assim com ela são apaixonados por palavras.

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