O anônimo.
Desde que se entendia por gente José sonhava por fama. Pouco o importava se grandes fossem seus vencimentos futuros, ou se a fama lhe viesse por meios nada convencionais ou até ilegais. Queria ter o nome popularizado, estampando manchetes de jornais. Queria arrancar suspiros das donzelas e admiração dos homens. Foi também desde muito cedo que José se convenceu, de que não possuía talento algum, para qualquer que fosse o segmento que pudesse lhe conduzir de encontro a fama.
No colégio, José foi um aluno tão comum quanto o seu nome. Nada de extraordinário conseguira este. Certa feita, ao tentar reproduzir a imagem da professora num pedaço de papel, no intuito de homenageá-la, deu vida a uma imagem que de tão bizarra, chegava a ser cômica. Tendo o papel por descuido, ir parar na mesa da professora e a mesma inquirido a imediata revelação do autor do infeliz desenho, José subornou o amigo com uma caixa de lápis de colorir, para que este assumisse a culpa. Três dias mais tarde, aquela mesma caricatura estampava não somente os cartazes da escola, como também as manchetes das principais revistas da arte, que falavam da descoberta de um pródigo caricaturista, o que rendera ao amigo de José, além das honrarias estudantis, um curso integral na escola de arte, que fez dele um dos maiores e mais famosos caricaturistas do país.
No serviço obrigatório militar, José levava bastante jeito com o rifle. Habilidade que logo chamou a atenção de seus comandantes. Numa apresentação de tiro ao alvo, onde seriam selecionados alguns atiradores de elite, tanta pose fez o favorito José para os fotógrafos presentes, que se esqueceu de encartuchar a arma, e quando na sua vez, o disparo foi infrutífero. Dois de seus colegas atiradores foram selecionados naquele dia, e hoje são os principais nomes da modalidade.
Na mocidade José que não tinha fama alguma entre as donzelas, deu de se apaixonar pela filha de um editor literário. Ciente do gosto desta pela poesia, José enveredou-se pelo caminho dos versos. Tantas lindas poesias nasceram em suas mãos, onde declamava todo o seu amor não correspondido, que entupiu um pequeno baú. Sendo José moço acanhado e inseguro, decidiu deixar o tal baú tal qual um órfão abandonado na porta da moça, com um bilhete que dizia: “Tens aqui um presente de alguém que ama a poesia e não tem coragem de publicá-la.” Quis o destino que o pai da moça abrisse a porta e, lendo o bilhete, entendeu como seus os versos e tão logo publicou como seus, os versos de José. Foi sucesso! O editor tornou-se o mais renomado poeta do país.
No desespero de alcançar a fama, José vagava pelas ruas a espreitar uma oportunidade. Tudo cogitava. Até mesmo praticar algum crime.
No auge de sua obsessão pela fama, José decidiu apelar para a imoralidade, convicto de que atentado ao pudor sempre gera grandes noticias. Decidido, dirigiu-se á praça central, despiu-se completamente de suas vestes atrás de um muro da esquina e correu completamente nu, para a multidão que festeja em torno do coreto. No entanto, nenhum alarde. E frustrado, José concluiu que se tratava de um encontro naturalista, onde os adeptos do nudismo exibiam seus corpos.
José faleceu na tarde passada. Sei bem disso porque virou noticia. Acontece que ao passar debaixo de uma passarela que a cidade inaugurava, diante dos olhos da imprensa e autoridades locais e também de um sem numero de opositores, que protestavam contra a segurança da construção, José, que procurava pelos fotógrafos, não percebeu o andaime que se soltou das amarras e despencou sobre sua cabeça. Horrorizados as pessoas logo quiseram saber quem era a vitima infeliz. E todos se apiedaram de José. Jornais de todo o país estamparam seu nome. E choveram tributos ao seu nome, entre eles, a passarela, que levará o seu nome.
Fonte da imagem: https://www.pexels.com/pt-br/foto/corte-o-hacker-pensativo-usando-um-laptop-e-tocando-o-queixo-5926391/
