Fabio Rodrigo

Nome não localizado

No caminho do trabalho, ele deu uma passadinha no caixa eletrônico para sacar dinheiro. Inseriu o cartão e a máquina não fez a leitura. O fato se repetiu em todas as outras máquinas do banco. Ficou furioso e buscou auxílio no banco em que estava. Foi informado que deveria verificar o ocorrido em sua própria agência. Telefonou para o gerente e ele lhe informou que não estava conseguindo localizar no sistema os dados fornecidos. “Seu nome não foi localizado”, disse o gerente.

– Como não localizou? – perguntou encabulado. Meu nome completo é Carlos Eleotério da Silva Santos.

– Lamento, mas esse nome não consta em nossos dados, senhor.

– Mas eu tenho conta neste banco há mais de dez anos!!! – disse indignado.

Sem saber o que fazer, pensou em como pode ter ocorrido aquilo com ele. “Alguém pode ter feito uma maldade comigo? Estão tentando arruinar com minha vida?” Mas lembrou que suas contas estão todas no seu nome e que não deixa de pagar nenhuma delas. Para não ter dúvida, ligou para a concessionária de energia elétrica, para o plano de saúde, para a fornecedora de água, de internet, tv a cabo… mas a informação era a mesma: seu nome não foi localizado.

Ligou para sua operadora de celular e também não localizaram seu nome. “Senhor, o número informado não consta em nosso cadastro” – disse a atendente.  Depois de quase uma hora na linha discutindo com a atendente, foi convencido de que estava ligando de um número desconhecido e que ele próprio não sabia que número era. Desfez a ligação ao perceber que não tinha mais o que discutir.

Desesperado, ligou para a empresa em que trabalha para avisar que chegaria tarde para resolver algo muito sério. A secretária disse que não havia nenhum funcionário com o nome informado. Ele então mandou chamar o chefe e este jurou que nunca houve nenhum Carlos Eleotério da Silva Santos nos quadros da empresa. Desta vez, o indivíduo entrou em pânico. Ligou para a esposa diversas vezes mas ela, como não o conhecia, cancelava as ligações.

Precisava provar que seu nome existia. Foi até a Receita Federal e seu nome não foi localizado. No DETRAN, o registro geral não foi encontrado. Deixou o prédio transtornado e, ao atravessar a rua, uma moto em alta velocidade o atropelou. Chegou sem vida ao hospital.

Foi enterrado como indigente. E até hoje nenhum parente ou pessoa próxima esteve no cemitério para visitar o seu túmulo.

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Fabio Rodrigo

Fábio Rodrigo é professor de Língua Portuguesa da secretaria de educação do estado do Rio de Janeiro e é doutorando em Língua Portuguesa pela UFRJ. Recentemente adquiriu o título de mestre em Estudos Linguísticos pela UERJ/FFP. Tem se dedicado a escrever crônicas que abordam temas do cotidiano e sua relação com a língua portuguesa e que são publicadas semanalmente no jornal Daki e no portal Entre Poetas e Poesias. Seu primeiro livro, Mixórdia e outras histórias, lançado pela editora Apologia Brasil, é uma coletânea de crônicas publicadas tanto no Daki quanto no portal. Suas crônicas, em sua maioria, são ambientadas no município de São Gonçalo, cidade em que o escritor nasceu e em que trabalha como professor. Como professor de Língua Portuguesa, Fábio Rodrigo procura aproximar o conteúdo das aulas de Português ao dia a dia, e seus textos são o resultado disso.

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