7ª edição – Crônica: “Sem Perdão” – por Ivone Rosa
SEM PERDÃO
Ivone Rosa
Fingiu ser a Helen e passou-se por Teresa, mas a verdadeira essência está nela mesma. Relendo seus textos, viajei no tempo e também fui brincar de escolher “palacetes”. Eu estava ali junto às meninas a caminhar pelas ruas do Recife a contemplar os pomares e canteiros bem cuidados.
Selecionei o casarão, bem como uma das minhas rosas favoritas: de cor branca, porque além da beleza encantadoramente singela, o sabor de suas pétalas é o mesmo que a folha de uma alface! Sim, tem um gosto tão suave quanto à sua cor!
As meninas riam em misto de ansiedade e diversão por fazerem algo proibido; roubar rosas. Não, não era roubo. Elas compartilhavam o colorido, o sorriso e a felicidade da conquista.
Essa garota tímida e paradoxalmente ousada, saboreava pitangas bem maduras que colhia, de forma oculta, de um pequeno espaço de uma igreja vizinha à residência. Tentava esconder apertando as mãos, e o sumo vermelho escorria entre seus dedos, que pareciam sangue.
Ela afirma que ninguém nunca soube. Porém, nós somos testemunhas, Clarice! Descobrimos através de seu relato literário que celebra UM SÉCULO de sua existência! Podemos conferir na obra Cem anos de Perdão.
Não há o que perdoar, querida menina! Não precisa pedir perdão. Pois aqui estamos, cem anos após o seu nascimento a contemplar a sua Arte! Parabéns Clarice Lispector!