Cristiano Fretta

Talvez kafkiano

Para que tudo ocorra corretamente, seu roupeiro deve ficar em um quarto úmido de uma casa de periferia. Escolha a gaveta mais próxima do chão. Esvazie-a, jogue tudo o que foi retirado dentro de um saco de lixo e imediatamente leve-o ao banheiro, deixando-o ao lado da privada. Volte para a frente do seu roupeiro e abra bem a gaveta até o ponto em que ela quase se desencaixe.  Tire o seu celular do bolso e pare de pé. Com os olhos fechados, largue-o dentro da gaveta. Concentre-se no barulho do impacto. A seguir, feche-a com o pé, para sempre. Saia do quarto. Saia para a rua. Sente-se no meio fio, respire fundo e espere o homem chegar. Quando ele aparecer e perguntar “posso terminar?”, apenas responda “mas eu nunca comecei”. Deixe-o iniciar o incêndio.    Observe a fumaça do dia.

Fonte da imagem: https://pixabay.com/pt/photos/praga-imagem-est%c3%a1tua-kafka-arte-1439696/

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Cristiano Fretta

Cristiano Fretta é mestre em Letras pela UFRGS, músico, compositor e professor de Literatura e Língua Portuguesa em escolas privadas de Porto Alegre. É autor das obras "Chão de Areia", "Tortos Caminhos", "A luz que entrava pela janela" e "Crônica de um mundo ausente". Também colabora com as revistas digitais Parêntese, do grupo Matinal Jornalismo, Passa Palavra e com o jornal Extra Classe. Nasceu e mora em Porto Alegre

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