Ouvi essa pergunta há muitos anos, precisamente quando ainda era uma menina. A conversa era entre adultos, e uma criança não pode interferir. Esse fato ocorreu em uma festa de aniversário, e na época eu não sabia nada sobre preconceito, tampouco discriminação.
Tudo estava muito perfeito! Animadores ao vivo, garçons, parquinho…quando diminuíram o som da música e uma jovem senhora chamou em voz alta, todas as meninas para perguntar sobre uma pulseira de ouro que alguém havia perdido. Olhei para meu pulso, estava nu. Era a minha!
Caminhei até a pessoa e disse com a voz tímida: “ Moça, é minha!” “ A pulseira é minha!” Implorei em vão! Ela lançou-me um olhar escuso da cabeça aos pés e voltou a falar alto: “Quem perdeu esta pulseira?” Corri a procura de meu pai, pois a minha mãe não foi à festa.
Ele estava conversando, não gostava de ser interrompido. Respeitosamente aguardei, parecia uma eternidade! Ele abaixou-se para que eu falasse ao seu ouvido. Meu pai respondeu que iria resolver… olhei ao redor e ela não estava mais! Fiquei na expectativa de que meu pai que sempre solucionava tudo em casa, fosse de fato resgatar um presente dado pela minha madrinha! O valor sentimental era muito maior do que o peso em ouro! Eu queria muito a minha pulseira. Durante um mês, todas as noites, esperava que meu pai trouxesse aquele presente de volta!
Um dia na escola, contei para minha professora sobre o ocorrido e que meu pai não conseguiu trazer a pulseira, por isso eu estava muito triste. Ela tentou me consolar com a infeliz frase:
“Tadinha, você não tem culpa por ter nascido com essa cor!”
Ivone Rosa