Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIA

O rosto de Cristo no Campo de São Bento

Série: Histórias de Arariboia

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Imagine se o paisagista belga Arsênio Puttmans (um puta homem, por sinal) soubesse que o seu lindo jardim se tornaria lugar de atração católica por causa de certas peregrinações. Sim, equívocos à parte, o caso aconteceu motivado por certa fé incomum, quando uma simples árvore de pindoba atraiu romeiros dos vários arredores fluminenses.

Para o leitor menos avisado, o Campo de São Bento não se chama exatamente assim. Trata-se do Parque Prefeito Ferraz, localizado no bairro Icaraí. O terreno fora adquirido lá para os idos do século XVII, pelo Mosteiro de São Bento, e só, muito mais tarde, obteve o seu belo paisagismo por parte do inspirado senhor Puttmans. Exatamente, artista de origem belga contratado para criação do lindíssimo parque de arcabouço inglês. Daí a explicação desta que é a mais popular referência: Campo de São Bento, simples assim. No entanto, me chega aos ouvidos certo assunto menos sabido, de quando, já em 1920, algumas plantas da classe das palmeiras sofreram ataques de larvas dos besouros vulgarmente denominados escaravelhos de chifre ou bicho rinoceronte. Sim, insetos singulares, besouros. Sabe-se que as copas das pindobas, das palmeiras fênix, das pseudo-tamareiras, todas elas enfraqueceram e perderam o viço. Justamente, as seivas das copas se esvaíram em decorrência das investidas das pragas. Uma pena, a natureza tem lá seus caprichos estranhos.

Os antigos nativos nomeavam as tais larvas dos insetos de verme do coco e se alimentavam com os tais bichinhos. Fonte de proteína, mas nojento, confesso sentir ojeriza com o visco extraído do abdômen da larva. Mas o que a peregrinação tem a ver com isso, professor? Bem, necessário ir com calma, pois esses assuntos de fé possuem lá os seus pontos nervosos. O caso é que um dos efeitos da praga nas palmeiras desenhou por acidente, no meio do miolo de copa da pindoba, algo semelhante à face de Cristo. Pois é, incrível! Um tipo de imagem quase perfeita da fronte do nosso Salvador surgiu assim do nada nas árvores.

O transeunte comum diria: “olhem! O rosto de Jesus, que lindo!” Frequentadores mais crentes anunciariam mais uma boa nova ou milagre. Isso mesmo, mistérios da fé. Daí para frente, fica fácil a você intuir. Os jornais anunciaram: “inúmeros peregrinos acorreram ao Campo de São Bento com vistas a obterem os seus respectivos milagres”. Mas e a tal planta, coitada? Bem, a pobre palmeira castigada ganhou os seus dois ou três meses de fama antes de ir ao chão. Sim, morreu ué, infestação do tal besouro de chifre. Pragas da época. Fim da planta santa.

Síntese do drama acerca do milagre do Campo de São Bento: morreu a pindoba com o rosto de Cristo estampado na copa. O fluxo de romeiros fidelizou outro lugar para os lados de Maricá. E o povo se esqueceu.

Fontes:

http://www.infobibos.com/Artigos/2008_2/Broca-das-palmeiras/Index.htm#:~:text=Uma%20das%20principais%20e%20mais,denominada%20Rhynchophorus%20palmarum%20Linnaeus%2C%201764.

http://www.belgianclub.com.br/pt-br/heritage/campo-de-são-bento-niterói

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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