Pé Pequeno: apelido jocoso e o grosso da cana
Série: Histórias de Arariboia
Quem ouviu falar no bairro Pé Pequeno, em Niterói, já tentou decifrar a origem do nome, creio eu. No entanto, a explicação é menos complicada que a lenda anglo-saxã do monstro Pé Grande. Graças a Deus, nada de gigantes selvagens por aqui, já chega das mazelas ditas reais. Os estrangeiros preferem suas próprias ficções; nós nutrimos nosso cotidiano de histórias duras e alguma diversão de efeito terapêutico.
O caso é que o lugar Pé Pequeno deriva do apelido recebido pelo senhor Antonio José Pereira de Santa Rosa Júnior. Viu aí? Sapatos imensos. Alcunha marota. Em vez de “pezão”, o tom jocoso do diminutivo inventado pelos amigos revestiu melhor o chamamento brincalhão. Pé Pequeno, e assim o apelido pegou. A história ilustra que esse senhor herdou grande parte da antiga fazenda homônima. Exato, propriedade importante de produção de cana-de-açúcar e derivados para os idos do século XVIII, donde a garapa escorria feito mel das cânulas quase industriais de lá. Aliás, caldo de cana que nada, chamavam o líquido doce de calimbá (ou calumbá). Não é à toa que uma das estradas mais famosas da época ficou registrada assim.
De acordo com o próprio site da prefeitura, a fazenda do senhor Antonio também foi vendida juntamente com “parte das terras situadas à esquerda da antiga estrada do Calimbá (atual Dr. Paulo Cézar), logo transformadas em chácaras. Com o passar do tempo, as chácaras do Pé Pequeno, que abrigavam famílias de nível econômico elevado e alguns dos nomes ilustres do município, foram revendidas e loteadas. Abriram-se novas ruas e foram construídas novas residências”.
Bem, uma visitinha apenas me fez sentir simpatia pelo bairro Pé Pequeno, que é considerado o menor de Niterói. Prédios gigantes a obstruírem a brisa e acortinarem a paisagem quase não existem por lá. Caldo de cana ainda se vê nas pastelarias locais. O jeito bucólico domina os arredores. Suas bem cuidadas construções ainda horizontais conquistaram meu coração. Quer conhecer? Dê um pulinho lá, assim que o claustro pandêmico passar. Até.
Referências:
Fonte: Niterói-Bairros – Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói – 1991
O texto Pé pequeno me faz recordar da pequena cidade de onde vim, as descrições são idênticas.
Muito bom.meemo.