Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIA

Jurujuba: atualidade e tradição em honra a São Pedro

Série: Histórias de Arariboia

Foto doada por Edris Vasconcellos, Presidente do Moto Clube Falcão Peregrino

Ao pesquisar um pouco da história fluminense, deparo com a certeza de que o bairro Jurujuba é um dos lugares mais tradicionais de Niterói. Colônia de pescadores, atividades religiosas, arquitetura conservada, enfim, por tudo isso, desnecessário tecer outras explicações.

Está claro hoje em dia que a redundância não nos cai bem. O óbvio já se instalou como inconveniente maior da modernidade. No entanto, duas curiosidades nos chegam e salvam a matéria da crônica de hoje. A primeira e mais histórica explicação se deve ao fato de Jurujuba significar, em língua Tupi, pescoço amarelo, em alusão aos franceses com barbas loiras e ruivas, os quais se espalhavam por Niterói. Havia também um tipo de papagaio amarelado na plumagem, motivador (quem sabe?) dos apelidos alusivos conferidos aos corsários franceses. Os pássaros amarelos se foram. Extinção concluída por aqui. Por que você acha que apelidam depois os papagaios verdes de loiros? Substituição de pets em época de colonização. Vão-se os tempos, ficam as manias. Esverdeados os bichos de penas, coitados. “Loirinho é o caramba”!

Bem, não vim aqui para ficar lhe devendo a segunda informação prometida. Claro que não. E essa outra é muito mais radical. Sem falar na típica coincidência de escritor, pois tal narrativa me foi oferecida por quem se tornou personagem em certa tradição niteroiense. Explico. Estive conversando com Edris Vasconcellos, presidente do Moto Clube Falcão Peregrino, e soube (por ele) que a tradicional procissão de São Pedro, evento histórico do lugar, anda modernizando também seus modos de expressão cultural. Isso mesmo, em vez só de transeuntes se deslocando a pé, o evento religioso incrementou: conta atualmente com dezenas de motociclistas em comboio pelo asfalto niteroiense. Coisa linda de se ver. O próprio Edris, meu amigo narrador, é assíduo e orgulhoso frequentador.

Sabe-se que aqueles mesmos moradores de outrora acordavam cedo só para acompanhar o arrastar das redes de pesca e levar a suas tainhas ou paratis pra casa. Agora, assistem à passagem das máquinas e seus motores possantes conduzidas por “cavaleiros” negros de índole familiar. Palmas, gritos de admiração, lenços e acenos, até crianças sorrindo por causa do buzinaço que se pratica nesse dia tão especial. Como não admirar tal sincretismo entre a tradição e a tecnologia? Evento singular, homenagem a São Pedro, o padroeiro de Jurujuba. Manifestação popular.

Se, noutros tempos, corsários franceses invadiram por aqui as margens da Guanabara com fins de dominação, hoje, os anseios são outros, e os barbudos em comissão pelas ruas trazem no peito o orgulho de poder contribuir com uma das festas mais bonitas de Niterói. Como se vê, na orla da praia se encontra a Igreja de São Pedro dos Pescadores, e é exatamente ali que ocorre, no dia 29 de junho de cada ano, a festa e a procissão em homenagem ao seu padroeiro. As vigorosas motos partem da Praia de Boa Viagem e culminam o passeio na frente da igreja sob a benção do padre. Alegria latente, contribuição e festa, evento único.

Sim, de fato Jurujuba é um bairro sobremaneira radical, raízes profundas e nativas em espaço niteroiense. Um mimo de lugar, vale a pena visitar e, quem sabe, trazer você também para curtir um pouco da história nas terras de Arariboia.

Foto doada por Edris Vasconcellos, Presidente do Moto Clube Falcão Peregrino

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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Um Comentário

  1. Sem dúvidas, Jurujuba é um lugar muito agradável e peculiar. Pitoresco! Visitar o bairro é, de certa forma, viajar em outra Niterói. Um bairro que conserva tradições e belezas.
    A crônica mostrou muito bem esse lugar impar.

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