Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIA

A origem do bairro São Francisco e a tradição médica niteroiense

Série: Histórias do Brasil (Texto XII)

Não é de hoje o meu interesse em escrever sobre bairros ou pontos específicos sobre o município de Niterói. Suas ruas, praias, praças, evocam motivos paisagísticos para enredos ótimos e não faltam na cidade assuntos e versões acerca da estátua do índio resguardando o lado de cá da baía. Pois é, mas as fontes históricas não me agradavam tanto assim. Muita exaltação elitista do espaço urbano. Exageros de bairrismos, enaltecimentos excessivos acerca da própria fundação, falta de poesia na arte de narrar. Tudo isso me fez anestesiar um pouco esse meu antigo intento. Porém, num desses acasos da vida, o inesperado me fez cair nas mãos um dos livros mais interessantes sobre a história do município: “A história da medicina em Niterói” (2018), cuja referência já, já ofereço de bom grado. Comecemos, então, com o charmoso bairro de São Francisco.

Os índios da tribo Keriy pertenciam ao grupo Tupinambá e estendiam suas habitações entre onde se localiza o bairro São Francisco e seus arredores. A história do bairro que leva o nome do santo cuidador e missionário perpassa também a história da medicina no Brasil. Isso mesmo, deve-se à origem da fundação da região a explicação da construção da segunda igreja da cidade, a de São Francisco Xavier, onde mais servia para atendimentos médicos dos habitantes do que manifestações da fé católica até então.

Sabe-se que, no século XVII, os Jesuítas ocuparam a antiga Fazenda do Saco de São Francisco e atuaram tanto na produção de medicamentos manufaturados quanto nas administrações terapêuticas nos habitantes fluminenses acometidos pelas variadas enfermidades que assombravam os que por ali passavam ou residiam — pois as doenças introduzidas pelos homens brancos nas Bandas D’além (conforme o lado de cá da Guanabara era chamada) assolava demasiadamente a região. Está aí, portanto, uma bonita história niteroiense. Não é à toa a tradição da medicina na cidade ter obtido reconhecimento mundial, trata-se de uma preocupação desde o começo da colonização. Sim, óbvio, a produção maior de medicamentos provinha da botica principal do Colégio dos Jesuítas, no Centro do Rio. Contudo, até que se chegassem esses suprimentos curativos no que viria a ser a Niterói de hoje, os medicamentos feitos na Fazenda do Saco de São Francisco serviriam à urgência dos tratamentos, sustentando a saúde dos moradores, e evitariam assim o genocídio invisível das pestes avassaladoras.

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Viu aí, caro leitor, a origem do bairro São Francisco? Eu mesmo nem sabia disso, mas os livros escritos com amor e comprometimento esclarecem e educam de maneira agradável. Hoje, meus parabéns vão para os organizadores do livro “A história da medicina em Niterói”, da DB Editora. Dedico meus sinceros agradecimentos aos idealizadores do projeto pelo conhecimento compartilhado: Franciane Barbosa, Antonio Schumacher, Irma Lasmar Sirieiro, Verônica Martins Oliveira, Sérgio Meirelles de Andrade, Antoane Rodrigues e aos diagramadores da empresa Texto e Café Comunicação. Obrigado, muitíssimo obrigado pela partilha.

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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