Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIA

Ponto Cem Réis ou bairro Santana?

Série: Histórias de Arariboia

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Não vou negar que considero o Ponto Cem Réis um dos lugares mais memorialísticos de Niterói. Casarios que contam histórias da cidade no tempo do bode, as ruínas das fábricas a marcarem a paisagem, a igreja de Nossa Senhora de Santana, o Clube Marajoara, enfim, tudo isso daria um quadro de óleo em tela a estampar a mistura exótica entre o antigo e o novo.

Talvez o leitor não se dê conta do verdadeiro registro do território sobre o qual estamos falando. Isso mesmo, o lugar de que tratamos hoje não é o Fonseca, tampouco nos referimos ao conhecidíssimo Barreto, o assunto do momento é o bairro Santana. Não conhece? Jamais ouviu dizer? Então, vamos lá, surpreenda-se, o espaço em questão constitui há muito o que popularmente se convencionou chamar de Ponto Cem Réis. Os livros de história estão repletos de explicações sobre o ponto de parada do bonde, onde se mudava o valor da tarifa de viagem de 50 réis para 100, ou algo parecido. Sim, simples assim, percurso férreo estendido, pagava-se bilhete mais caro. Prontinho, eis o apelido do lugar.

A história em questão começa ainda no século XIX, com a prosperidade da antiga fazenda de Sant’Anna, adquirida pelo Brigadeiro tornado General, o senhor João Nepomuceno Castrioto. Isso aí, aquele mesmo que estampa até hoje o frontispício do quartel do Sétimo Batalhão de Polícia Militar (7º BPM – RJ), batizado em sua honra e glória, a margear a Avenida Feliciano Sodré. Exato, ao cidadão observador, não falta a curiosidade, está lá: Caserna Gal. Castrioto, esquina com a Barão do Amazonas, ao lado da Rodoviária de Niterói. Mas voltemos ao bairro Santana, topônimo surgido das terras da fazenda de mesmo nome.

De acordo com o site da prefeitura: “Santana é um dos bairros mais antigos de Niterói, limitando-se com São Lourenço, Fonseca, Engenhoca, Barreto, Ilha da Conceição e Ponta D’Areia, além das águas da Baía de Guanabara. Inicialmente suas terras foram ocupadas por plantações, mas a proximidade do mar foi fator fundamental para entender fatos que marcaram a história do bairro”.

Viu aí, que privilégio territorial? Uma pérola entre as fazendas fluminenses. Produção agrícola conjugada à atividade pesqueira de que se serviam seus vizinhos também. Logicamente, como resultado houve prosperidade a perder de vistas. Extração mineral, áreas destinadas a armazéns, tudo isso insuflou o fluxo de comerciantes. E assim se deu o desenvolvimento urbano. Portos de abastecimento, Igreja de Santana e seu largo crescendo em importância, valorização imobiliária pelas redondezas.

Já no século XX, com o progresso do vizinho Fonseca e a importância de São Lourenço, a locomoção férrea chegou em boa hora. As charretes que ligavam Niterói a São Gonçalo perderam espaço para os bondes puxados a burro. Posteriormente, esses mesmos veículos deram lugar aos bondes de tração elétrica e a outros veículos motorizados que nós conhecemos bem. A Rua Benjamin Constant deixou de ser a via principal. A Alameda São Boaventura intensificou o tráfego. A Ponte Presidente Costa e Silva (Rio-Niterói) alavancou o movimento, apelidaram a Avenida do Contorno de “transtorno”. Pronto, estava selado o apagamento gradativo do nome Santana.

Em suma, uma pena a narrativa terminar assim. Tempos de melancolia. Desgosta-me lançar mão da atual confusão das geografias. Pois é, falamos do bairro Santana, esse sim tem história.

Referências:

http://www.culturaniteroi.com.br/blog/?id=319

SILVA, Robson Rodrigues. Entre a caserna e a rua: o dilema do “pato”. Uma análise antropológica da instituição policial militar a partir da Academia de Polícia Militar D. João VI – sta.sites.uff. br (2011).

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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