Fabio Rodrigo

O Recife

Ao passar em frente à prefeitura do Recife, isso mesmo: do Recife, fiquei encucado com a presença do artigo definido antes do nome da cidade. Foi a primeira coisa que observei ao chegar a esta linda cidade do Nordeste brasileiro, considerada inclusive a capital do Nordeste. Pensei que a primeira coisa a observar fosse o sotaque, a simpatia, a culinária ou, até mesmo, a mania de grandeza do povo recifense. É um povo que tem suas extravagâncias, como qualquer outro povo. Algumas inclusive são bizarras. Falam que seu shopping é o maior do Brasil, que uma de suas avenidas é a maior da América Latina. Chegam ao ponto de idolatrar o próprio invasor, pois há uma estátua de Maurício de Nassau na principal praça de Recife.

Mas, voltando ao artigo definido, sabemos que ele não é usado antes de cidades. Porém, há exceções. O Rio de janeiro, por exemplo. Segundo os gramáticos, modernamente se dispensa o artigo antes de Recife, mas os recifenses fazem questão da presença do artigo. Não é em Recife e sim no Recife. Não é de Recife e sim do Recife. O próprio Manuel Bandeira, grande poeta e apaixonado pela terrinha, ao escrever um poema sobre suas recordações de infância, intitulou-o de Evocação do Recife.

O recifense quando ouve o sotaque de quem é do Rio fica encantado, mas quando nos ouve dizendo Recife sem o artigo definido deve sentir uma grande vontade de nos fuzilar, imagino eu. Acredito que Recife, ou melhor, o Recife diz muito sobre o que é o povo recifense. Um povo que enaltece sua própria cultura, que valoriza seus hábitos e costumes. Um povo que tem orgulho de dizer que tem um dos maiores museus do mundo: o Instituto Ricardo Brennam. Diga-se de passagem, é pra se orgulhar mesmo. Esse povo, além de amar sua cidade, conhece suas mazelas, como a palma de sua mão.

Posso dizer que o que tinha de conhecimento de Recife era muito pouco diante de sua grandeza, ou melhor, diante do Recife. Aliás sabia nada de Recife. Agora sim conheci um pouco do Recife. E estou maravilhado. O que dizer de Recife em comparação ao que conheci do Recife? Não são a mesma coisa. Recife será sempre um lugar perdido na minha imaginação. Porém o Recife, a cidade que conheci e que o povo nativo a conhece muito bem, estará sempre guardado em minha memória.

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Fabio Rodrigo

Fábio Rodrigo é professor de Língua Portuguesa da secretaria de educação do estado do Rio de Janeiro e é doutorando em Língua Portuguesa pela UFRJ. Recentemente adquiriu o título de mestre em Estudos Linguísticos pela UERJ/FFP. Tem se dedicado a escrever crônicas que abordam temas do cotidiano e sua relação com a língua portuguesa e que são publicadas semanalmente no jornal Daki e no portal Entre Poetas e Poesias. Seu primeiro livro, Mixórdia e outras histórias, lançado pela editora Apologia Brasil, é uma coletânea de crônicas publicadas tanto no Daki quanto no portal. Suas crônicas, em sua maioria, são ambientadas no município de São Gonçalo, cidade em que o escritor nasceu e em que trabalha como professor. Como professor de Língua Portuguesa, Fábio Rodrigo procura aproximar o conteúdo das aulas de Português ao dia a dia, e seus textos são o resultado disso.

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