João Rodrigues

Águas sagradas  

As mãos santas do inverno já mudaram

A roupagem tostada do sertão

Todo o cinza trocaram pelo verde

Dando cor, dando vida ao nosso chão

Não há mais solo duro, ressecado

Todo canto que vejo é embrejado

E o sertão agradece tão fraterno

E a caatinga tão verde e já florida

Olha o céu e sorri agradecida

Pelas águas sagradas do inverno.

 

Os açudes transbordam, a água desce

No riacho, espalhando sua riqueza

Pescadores de anzóis e landuás

Vão pescar seu almoço na represa

O vaqueiro, feliz, tange seu gado

O roceiro, contente, no roçado

Vê o milho verdinho, penduando

Seu feijão também verde e já florido

Olha o céu e sorri, agradecido

Pelo inverno que Deus está mandando.

 

Na lagoa, a orquestra sapofônica

Sem parar, faz a festa a noite inteira

Os murmúrios que surgem dos riachos

Se misturam com o som da cachoeira

Cada grota que existe está roncando

Olho d’água, do chão, límpido brotando

Águas descem num fio limpo e comprido

Afogando de vez a sequidão

Devolvendo a beleza do sertão

Que olha o céu e sorri, agradecido.

 

O campina cantando na oiticica

O tiziu pula alegre na milhã

Lá na baixa, feliz, grita o socó

Do outro lado responde a jaçanã

“Traz o pote!”, replica a siricora

Ficam todos felizes: fauna e flora

Pois a água é quem dá o dom da vida

A caatinga se cobre de beleza

Tão feliz, que até a própria natureza

Olha o céu e sorri, agradecida.

 

O poeta observa ao seu redor

Vê um mundo repleto de magia

E percebe que a própria natureza

É composta de pura poesia

Tudo ali lhe acalma o coração

E no meio de tanta inspiração

A compor um poema é seduzido

Pega tinta e papel, pensa num tema

E assim que termina seu poema

Olha o céu e sorri, agradecido.

 

João Rodrigues – Reriutaba – CE

Créditos da imagem: https://pixabay.com/pt/photos/menino-rede-de-pesca-peixe-junco-1094813/

 

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João Rodrigues

Nascido em Riacho das Flores, Reriutaba-Ceará, João Rodrigues é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estácio de Sá – RJ, professor, revisor, cordelista, poeta e membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes e da Academia Virtual de Letras António Aleixo. Escreve cordéis sobre super-heróis para o Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (NuPeQ) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

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