Águas sagradas
As mãos santas do inverno já mudaram
A roupagem tostada do sertão
Todo o cinza trocaram pelo verde
Dando cor, dando vida ao nosso chão
Não há mais solo duro, ressecado
Todo canto que vejo é embrejado
E o sertão agradece tão fraterno
E a caatinga tão verde e já florida
Olha o céu e sorri agradecida
Pelas águas sagradas do inverno.
Os açudes transbordam, a água desce
No riacho, espalhando sua riqueza
Pescadores de anzóis e landuás
Vão pescar seu almoço na represa
O vaqueiro, feliz, tange seu gado
O roceiro, contente, no roçado
Vê o milho verdinho, penduando
Seu feijão também verde e já florido
Olha o céu e sorri, agradecido
Pelo inverno que Deus está mandando.
Na lagoa, a orquestra sapofônica
Sem parar, faz a festa a noite inteira
Os murmúrios que surgem dos riachos
Se misturam com o som da cachoeira
Cada grota que existe está roncando
Olho d’água, do chão, límpido brotando
Águas descem num fio limpo e comprido
Afogando de vez a sequidão
Devolvendo a beleza do sertão
Que olha o céu e sorri, agradecido.
O campina cantando na oiticica
O tiziu pula alegre na milhã
Lá na baixa, feliz, grita o socó
Do outro lado responde a jaçanã
“Traz o pote!”, replica a siricora
Ficam todos felizes: fauna e flora
Pois a água é quem dá o dom da vida
A caatinga se cobre de beleza
Tão feliz, que até a própria natureza
Olha o céu e sorri, agradecida.
O poeta observa ao seu redor
Vê um mundo repleto de magia
E percebe que a própria natureza
É composta de pura poesia
Tudo ali lhe acalma o coração
E no meio de tanta inspiração
A compor um poema é seduzido
Pega tinta e papel, pensa num tema
E assim que termina seu poema
Olha o céu e sorri, agradecido.
João Rodrigues – Reriutaba – CE
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