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Resenha – Literaweb – #01 – A Revolução dos Bichos, de George Orwell

A Revolução dos Bichos – um sonho de igualdade, de George Orwell
Renato Cardoso – Instagram: @professorrenatocardoso / @literaweb

Há quem diga que uma sociedade igualitária em todos os aspectos é possível. Viver em um mundo, onde a exploração e a desunião desapareceram, é uma realidade ou uma utopia? Regimes totalitários ainda existem em pleno século XXI. Livros sobre o assunto existem aos montes e contam, em diferentes tempos, experiências de desigualdades vividas pela sociedade.

A Revolução dos Bichos é uma dessas obras literárias, criada pelo escritor inglês George Orwell, visa a discussão dos valores humanos, assim como abuso de poder, totalitarismo, manipulação de informação e confrontos por interesses pessoais. O livro é uma crítica direta ao Stalinismo e ao seu dito regime igualitário.

A história começa com o porco Major (o animal mais antigo da granja e idealizador da revolução) convocando todos os animais da Granja Solar para uma reunião, onde ele contaria o sonho que teve. Sabendo que não duraria mais muito tempo, pois já estava bem velho, o porco Major, descrevendo seu sonho, disse que chegaria o tempo em que os animais serão livres e farão sua grande revolução.

A obra de Orwell é uma fábula, e como toda grande fábula tem uma grande moral, nesse caso o debate sobre a condição de igualdade entre os seres dentro do regime socialista corrompido na antiga União Soviética pós Revolução Russa de 1917. Ele, socialista declarado, usa os porcos Major, Bola de Neve e Napoleão para fazer uma alusão a Marx/Lênin, Trótski e Stálin, respectivamente.

Pautada no princípio de igualdade, nasce ali um sistema político denominado Animalismo, tendo como principal lema: “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”, determinando que todos os animais são bons e que os seres humanos são ruins. Porém Major morre poucos dias depois.

Nos primeiros momentos da revolução, todos os desígnios são seguidos fielmente. Os bichos começam a se chamarem de camaradas, representando assim a igualdade entre eles. Toda e qualquer discussão é levada a plenário e sempre termina em votação.

Os porcos Bola de Neve, Napoleão e Garganta assumem o poder, pois alegam ter mais conhecimentos (já sabem ler e escrever). A revolução é planejada e detalhada em cada reunião que acontece. Um belo dia, Sr, Jones (dono da granja – um homem rude, que maltratava os animais, os explorando e dando a eles pouca comida) chega a casa bêbado e esquece de alimentar os animais, que revoltados com a situação revolvem expulsar todos os humanos da granja e assim nasce a revolução dos bichos.

Encontramos nos porcos citados características semelhantes as personalidades mencionadas, como por exemplo: o porco Major representando Marx e Lênin como a figura do criador do Animalismo (Socialismo), Bola de Neve tendo o poder da persuasão pertencente a Trótski e Napoleão herdando a tirania de Stálin.

Em um primeiro ato, trocam o nome da granja para Granja dos Bichos e a bandeira local por uma com cor verde e com um chifre e um casco, além disso instituem o hino Bichos da Inglaterra como o hino da revolução. Nos fundos do celeiro, eles escrevem os sete princípios do Animalismo.

l. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.

2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.

3. Nenhum animal usará roupas.

4. Nenhum animal dormirá em cama.

5. Nenhum animal beberá álcool.

6. Nenhum animal matará outro animal.

7. Todos os animais são iguais.

Todos os animais começam a ser alfabetizados, uns mais rápidos que os outros. A casa do Sr. Jones vira um museu e fica proibida a qualquer animal habitá-la. Os dias transcorrem tranquilamente sem os humanos na granja. Todos os animais trabalham ardentemente pelo ideal que acabara de se realizar, exceto os porcos, que somente supervisionam o trabalho dos demais, pois consideram que o trabalho intelectual que exercem é mais cansativo que os demais.

Aos poucos, os privilégios dos porcos foram aparecendo e o princípio básico de igualdade desaparecendo. A produção de leite e de maçã ficam somente para os porcos, que alegam a necessidade de uma alimentação extra para desenvolverem melhor a organização da granja.

Na obra vemos a corrupção ao qual o poder pode levar e que toda sociedade, mesmo sob preceitos de igualdade, acaba sendo estratificada, dando privilégios a uns e retirando de outros. Os porcos tudo têm, os demais cada vez têm menos. Uns trabalham mais e outros não fazem nada, exemplo maior é o Sansão, que trabalha incansavelmente, enquanto os porcos pouco fazem.

Não tardou e Sr. Jones, junto a outros humanos, tenta retomar o poder, mas logo são expulsos pelos animais. Nesse momento, um golpe está sendo tramado por Napoleão, que espera a próxima assembleia para executar.

Na reunião, seguinte a expulsão de Jones, os animais decidem sobre a construção de um moinho para a fazenda. Bola de Neve, autor da ideia, é favorável, porém Napoleão não. Os animais vendo as melhorias que o moinho trará, aceitam a ideia. Os porcos estão divididos sobre a construção e depois de uma reunião, Napoleão expulsa Bola de Neve, sob a acusação de ajudar os humanos a tentarem retomar o poder da granja, e passa a comandar o local.

Os mandamentos do Animalismo são mudados um a um em prol da soberania dos porcos. Agora associado a Garganta (porco articulador, que convence os outros animais de que a vida atual é melhor que a anterior), Napoleão mostra toda sua tirania e totalitarismo, mudando-se para casa do Sr. Jones, de onde, por absoluta ganância, resolve negociar produtos com os humanos.

Utilizando seu escudeiro fiel Garganta, Napoleão convence a todos que a ideia do moinho é originalmente dele e que Bola de Neve é um traidor, que agora está associado aos humanos das granjas próximas. Os animais se esforçam, trabalhando mais e comendo menos em prol da construção do moinho, que é destruído novamente, agora pelos humanos.

Os animais mais antigos começam a questionar a vida na granja, dizendo que na época de Jones a vida era melhor. Os mesmos foram acusados de traição e mortos. A República dos Bichos é implantada e todos os preceitos do Animalismo são subvertidos.

Na última tentativa da construção do moinho, Sansão (forte cavalo, que só sabe trabalhar) adoece e é levado para matadouro. Garganta convence a todos que não, dizendo que ele está indo para o veterinário, mas Sansão nunca mais volta.

Além dos privilégios, Orwell busca mostrar, em seu livro, a censura e a idolatria. A manipulação de informações é feita com reconstrução da memória de que na época dos humanos tudo era pior (maneira encontrada para esconder a opressão causada pelos porcos) e com a alteração da imagem do Bola de Neve, que passa a ser um inimigo e estar sempre por trás de todas as ações ruins que acontecem. A idolatria é mostrada na figura do Napoleão, quando hinos e poemas são feitos exaltando sempre a imagem do porco líder, tentando mostrar que ele estava sempre preocupado com todos os animais.

Na parte final do livro, vemos a aproximação dos porcos com os humanos (seres odiados por eles no início da obra) através da negociação de produtos e bens. A exploração dos bichos fica mais evidenciada. Os porcos são flagrados andando sobre duas patas, concluindo a total humanização deles. Afinal, não sabiam mais quem era porco e quem era humano.

O livro tem uma linguagem simples, uma narrativa instigante e que alcança qualquer idade. Uma obra que mostra que todo e qualquer sistema existente nunca será igualitário, pois o oprimido de ontem será o opressor de amanhã. Uma narrativa atemporal, válida para os dias atuais. Uma excelente obra, de um excelente escritor.

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Renato Cardoso

Renato Cardoso é casado com Daniele Dantas Cardoso. Pai de duas lindas meninas, Helena Dantas Cardoso e Ana Dantas Cardoso. Começou a escrever em 2004, quando mostrou seus textos no antigo Orkut. Em 2008, lançou o primeiro volume de “Devaneios d’um Poeta” e em 2022, o volume II com o subtítulo "O Rosto do Poeta". Graduado em Letras pela UERJ FFP e graduando em História pela Uninter. Atua como professor desde 2006 na rede privada. Leciona Língua Inglesa, Literatura, Produção Textual e História em diversas escolas particulares e em diversos segmentos no município de São Gonçalo. Coordenou, de 2009 a 2019, o projeto cultural Diário da Poesia, no qual também foi idealizador. Editorou o Jornal Diário da Poesia de 2015 a 2019 e o Portal Diário da Poesia em 2019. É autor e editor de diversos livros de poesias e crônicas, tendo participado de diversas antologias. Apresenta saraus itinerantes em escolas das redes pública e privada, assim como em universidades e centros culturais. Produziu e apresentou o programa “Arte, Cultura & Outras Coisas” na Rádio Aliança 98,7FM entre 2018 e 2020. Hoje editora a Revista Entre Poetas & Poesias e o Suplemento Araçá.
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