Nadando contra a corrente
A cidade canta. Um estranho talvez pudesse passar. Olho rapidamente esperando a entrada em cena do estranho que busco. Olho o mar. Cartas não compensam. Chegam em garrafas. As dosagens não chegam a meia taça. Desenvolvem o paladar, foram enviadas por um verdadeiro sommelier. Ele sabe montar a carta, não hesita em atualizá-la semanalmente. Instiga o paladar. Aconselha certos pratos como se adivinhasse o gosto pessoal.
De longe, acompanho a movimentação. Quero imaginar o processo de harmonização dos sabores antes mesmo de as garrafas serem abertas. Envia-me a carta e sabe da temperatura correta. Espero o prato do estranho que busco. O sommelier passeia os olhos ligeiros como se arquitetasse um banquete para dois.
O mar se enche de fúria.
A degustação ocasiona o torpor esperado.
O líquido desce em jorro instintivo nutrindo expectativas. A saliva percebe o prato, ele não chega. As cartas não compensam.
As dosagens não chegam a meia taça, e deixei escorrer o líquido. Há muito desperdício. Procuro o estranho, quero perguntá-lo sobre o prato principal, talvez ele saiba. Observo à distância. O sommelier não recomendou o prato?
A cidade canta.
Não são homens trabalhando.
Não são os navios no cais.
Não são os blocos de carnaval.
– Deem ao dia o que pertence ao dia! – Alguém grita.
A cidade canta. O sol se põe. Escuto o trovão. O vento espalha tantas cartas que se torna impossível visualizar a correnteza.