Michelle Carvalho
Tendência

Metamorfose de alma

 

Em gradual e intensa metamorfose

Adianto-me costumeira

Tornando nova a mesmice asfixiante da vida

Dinâmica e revolucionária

Inquieta, ansiosa e discrepante

Movimento-me

Transformo-me

Floresço…

Segrego meu tempo

Para ser várias em líquido estalar de dias

E nessa loucura

Consigo me reinventar

Na nova página

Cheia de vírgulas

Dessa nova vida que não teve um ponto final.

(Michelle Carvalho)

Esse novo tempo em que estamos vivendo sempre me enche de ideias para escrever, principalmente para refletir, analisar e aprimorar o antes, o agora e  escolher meus passos para depois…

Vivíamos em uma vida automática, frenética e em um movimento cada vez mais célere que estava cegando e enlouquecendo a todos, nos fazendo achar que somos soberanos ao tempo, ao espaço. Pensando que tudo poderíamos controlar, até que algo ínfimo e invisível nos fez parar para repensar que somos frágeis, humanos, dicotômicos, cientes de que não somos invencíveis a tudo, que sucumbimos a um vírus ínfimo, que muito dependemos uns dos outros e principalmente de Deus para mudar toda essa situação.

É um momento turbulento de desassossego, insatisfação e desespero para muitos, altos e baixos para alguns, mas um acordar da alma para todos os que vislumbram essa condição e enxergam que daqui pra frente tudo precisa ser repensado, ser diferente, precisamos saber e entender o que queremos e não queremos mais, o que me agrega ou não, para separarmos o joio do trigo dentro da nossa própria vida.

Vivíamos cheios de tantos, de tudo e de repente um vazio, um colapso abrupto de paralização em que tudo se esvai. Devemos reaprender a preenchê-lo aos poucos, por nós mesmos, sem imposição ou desejos alheios e sim desejos nossos que vislumbramos e entendemos como nossos, em um movimento cautelar de sedimentação da nossa base para que não esfarelemos quando ao ápice chegarmos.

Encaremos tudo isso como uma nova oportunidade, como um reistart da vida de todos nós diante da tristeza que era abafada por sorrisos e fotografias em redes sociais, mas que a muitos fazia chorar ao colocar a cabeça no travesseiro eis que escravos de uma sociedade doente, racista, machista, escravocrata de moldes e formas de vida que não trazem sorrisos reais.

Além de tudo que descrevi, vislumbrei que este tempo que vivemos veio impregnado de oportunidades de fazer o bem, e que só de não fazer o mal ou atrapalhar o desenvolvimento do próximo, você já ajuda muitíssimo.

Tenho tido o prazer de agraciar-me com cuidados sempre que desejo, e se não tiver vontade, nada me fará fazer forçadamente eis que meu cotidiano me faz feliz estando com as unhas pintadas ou por fazer.

Por mais de um mês fiquei sem cutilar ou pintar as unhas e quando tive desejo eu as providenciei por mim mesma, pois desde pequena desenvolvi esta artimanha de fazer por mim, e deixar minhas unhas apresentáveis.

Quando criança observava minha mãe fazendo lindamente as próprias unhas e cresci tentando aprimorar tal façanha. Quando adolescente não tinha dinheiro para ir a salões e eu mesma sempre me virei e assim o faço até hoje.

 Engraçado como quando eu quero presentear-me vou à manicure, é como um cuidado extra. Neste período eu mesma venho cuidando-me e tenho orgulho por poder fazer isso sozinha como um artesanato em cada parte de mim quando desejo.

Em gradual e intensa metamorfose vou modificando-me dia a dia neste confinamento, tornando paulatinamente nova a mesmice da minha vida que dantes me asfixiava.

Continuo triste por ter tanta gente sofrendo, sinto por cada um, mas não posso sucumbir, devo agradecer por não estar passando por isso, ajudar o quanto posso e não me sentir culpada ou me martirizar por não ter um ente querido acometido por este mal, por não ter perdido todas as minhas possibilidades de trabalho ou por quem está saudoso de encontros, festas e baladas e eu não sentir como estes.

Na verdade já não realizávamos tantos encontros por falta de tempo e muitos compromissos. Quantas vezes deixamos de ir a um encontro de família, de amigos por termos sempre algo “importante” ou outro “compromisso”. Já estávamos distantes de muitos, o problema é romantizar ou ter a certeza de que fomos cerceados de nossa liberdade de escolha.

Termos saudades do que não fazíamos é sermos levianos ao afeto, mas termos saudades do que realizávamos e estamos impedidos é duro. Basta que reflitamos o que realmente faz falta.

Inquietos muitos se movimentam, transformam-se e florescem como pessoas um pouquinho renovadas, conquistando a cada dia mais a inteligência emocional que antes tanto buscavam, não encontravam e viviam antropofagicamente.

Muitos ainda dizem que vivo em uma nuvem de poesia, mas na verdade vejo que eu, como muitos vinham andando por um caminho de espinhos que desencaminhou muitas vertentes que antes pensavam ser certas na vida, mas que na verdade traziam tristeza e um sorriso inquietante.

E neste amontoado de coisas que nos rodeiam para tirar a paz, recolhi-me obediente no lugar que tanto almejei, o meu lugar de amor e calma e segurança, a minha casa. Não ficando alheia, mas ficando atenta ao que me vem.

O excesso de aproximação com tantas pessoas que me faziam mal me espinhou, e hoje que nos distanciamos, congelei-me para muitos de forma potencializada, fazendo-me entender quem eu vou querer realmente perto de mim quando tudo isso acabar, mas ainda não sabendo como gerenciar esses desejos e necessidades e creio que muitos também estão sentindo assim.

Sinto falta de muitas situações, dos meus leitores, da comida da minha mãe, do cheiro do café dela, mas me reconheço forte nesta falta e sei que superarei tudo isso porque na falta nos fortalecemos, nos reinventamos.

Agradeço por ter muito mais do que necessito e mereço. Nestas simplicidades e singelezas também me fortaleço na fé.

Mesmo muitas vezes com a emoção falando alto tento manter-me de pé, ainda me cobrando muito, chorando às vezes em minhas orações, pois a dor alheia também nos fere, mas buscando ver sempre o lado bom das coisas.

Michelle Carvalho

Imagem da internet

 

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Imagem destacada: https://pixabay.com/pt/photos/vida-metamorfose-mudan%c3%a7a-alma-luz-4940326/

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Michelle Carvalho

Biografia: Advogada, Escritora desde os 13 anos, com participação em inúmeras antologias literárias e premiações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ganhadora do Premio Baixada de Literatura em 2014. Lançou 4 livros: “Furor Letárgico da Alma” (2009), “Versos de Princesa Prometida” (2015 – na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro) e “Cindy Entre Patas e Reinos” (2018) e Cindy Entre Patas e Reinos 2 (2019 – 19ª Bienal Internacional do do Livro do Rio de Janeiro) , estes dois últimos projetos de leitura na Cidade das Artes/RJ, em várias escolas nacionais e internacionais. Além de diversas participações em projetos culturais literários em escolas com palestras motivacionais, intervenções literárias e poéticas em saraus, sendo o último deles o Programão Carioca da Rede Globo no ano de 2018, Participação na FLIM e FLISGO no ano de 2019, bem como posse na ACLAM – Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé.

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