Luis Amorim

A filha da terra

Com lago pela frente e casas mais por diante, as dos familiares de grau primeiro, o repouso aparentemente na perfeição está a acontecer. Ao longe a montanha dos matinais passeios e casuais encontros com a fauna local mais a flora tão atenciosa, fá-la sorrir. Da pequena ilhota com o resto do lago a abraçá-la é que consegue ver na calma a envolvência pensada, sem demais preocupações do quotidiano lá longe, na cidade. Mas agora quando relembra os momentos que antecipa para o futuro quase a chegar ainda está na proximidade tão urbana, pelo menos assim, talvez com algum engano lhe parece, de onde saiu rumo à tal paisagem que conforme vê a outra envolvência que a acompanha passar, a permitida pelo comboio onde segue viagem, mais perto na distância a sente finalmente diminuindo, para sua felicidade crescente pois só tem deslocação possibilitada ao rural meio uma vez por ano. É no campo e na montanha que melhor se ilumina sua face com os raios solares a testemunharem os seus sorrisos perante a família que ainda por lá tem a sua vida e, na compreensível impaciência se irá provavelmente movimentando na espera que certamente desespera, sabendo naturalmente que a filha da terra estará para chegar. Foi lá que ela nasceu, brincou e cresceu, tendo rumado ao urbano lado com uma vida procurada para o melhor de si. Conseguiu-o e retribui no agora como em todos os anos, uma vez sempre no mesmo mês com o regresso, por toda a gente do campo tão aguardado, inclusive pelos não familiares que por esta altura já se vão juntando pois quanto à hora dela aparecer o relógio enfim diz que não faltará muito, enquanto a viajante, ela mesma de quem falamos até lá já se encontra na tal ilhota onde vê as casas, o campo e a montanha bem ao fundo na paisagem. As pessoas da família, igualmente no seu pensamento, e não só também têm consciência disso e para a ilhota vão observando com a vista para o outro lado de onde ela irá surgir, a filha da terra, que chega de comboio, faltando ainda um pequeno trajecto de carro, o qual por ela esteve alegremente em espera, junto à pequena empresa de aluguer de viaturas, onde o seu tio, à porta vai sorrindo com a chave na mão. Com muita saudade os prolongados cumprimentos, afinal um ano passou e o convite feito para um almoço no dia seguinte ficou apalavrado, em casa dos seus pais, os dela, para onde se dirige no instante. Os familiares vieram sempre na sua companhia durante a viagem e como o percurso de automóvel curto parece, a família quase a via desde que ela chegou, sendo o mais certo que avistava na perfeição desde há muito tempo na sua própria mente familiar, a figura central deste conto, então bem dentro do horizonte. E eis que ela vai chegar finalmente ao seu destino porque o tem à sua mercê por fim, na tal paisagem que a acompanhou desde que tomou saída urbana com o fim de viagem no campo onde família e não só recebe com ternura na saudade que vem do pretérito ano, a filha da terra.

Fonte da imagem: Foto do Autor

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Luís Amorim

Luís Amorim, natural de Oeiras, Portugal, escreve poesia e prosa desde 2005. Tem já escritas cerca de 2800 histórias com 106 livros de ficção publicados, entre os quais, um primeiro em inglês, "Cinema I", onde responde por 28 heterónimos (em prosa e poesia). Dos livros em prosa, tem vinte e oito da série “Contos”, “Terra Ausente”, “A Chegada do Papa” e dois livros de “Pensamentos”. Na poesia, igualmente diversas séries de livros têm alguns volumes, como “Mulheres”, “Tele-visões”, “Almas”, “Sombras”, “Sonhos”, “Fantasias”, “Senhoras” e o herói juvenil “Esquilo-branco”. Todos estas obras de poesia citadas, integram os designados contos poéticos, assim identificados pelo autor, aos quais se acrescentam “Lendas”, “Campeões”, “Músicas”, “Turismo”, “Palavras”, "Flores", “27 Flores”, “Todas as Flores” e mais outros sete do universo “Flores”, onde este elemento surge em todos os enredos, como por exemplo “A ceia do bispo e outros contos poéticos”. A escrita também foi posta em narrativas poéticas, “Beatriz” (inspirada na personagem de "A Divina Comédia" de Dante Alighieri), “Paz”, “O Viajante”, “O Sino”, “A Sereia” e “O Mapa”, este com 3016 versos. Ainda a registar em poesia, “Refrões”, “Sonetos”, “Trovas” e quatro volumes de “Canções”. Dois livros foram publicados segunda vez, então com ilustrações de Paulo Pinto (“Almas”) e Liliana Maia (“Fantasias”). Luís Amorim foi seleccionado por 313 vezes com contos e poemas seus em concursos literários para antologias em livros, revistas e jornais em Portugal, Brasil, Suíça, Colômbia, EUA, Inglaterra e Bangladesh. É colunista da revista “Entre Poetas & Poesias” a partir de 2022 e integrante desde 2021 do Coletivo “Maldohorror”, onde histórias suas são publicadas em ambos os sítios, com regularidade. Tem igualmente publicados 32 livros de Desporto (Automobilismo, Hipismo, Futebol, Vela, Motociclismo) e 4 de Fotografia, o que somando aos 106 de ficção, perfaz um total de 142 livros publicados.

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