Projeto 16 horas de escrita – “A CONQUISTA” – Ivone Rosa
No início desta semana fui ao centro do Rio de Janeiro com minha filha. Ela me pediu que fôssemos de barca, como estava preocupada com o horário, usamos um carro por aplicativo e o retorno seria pelo mar.
Cumpri o prometido, e a viagem de barca é sempre aprazível! Curti um pouquinho o panorama e a seguir peguei um livro de contos em minha bolsa. Iniciei a leitura, mas um senhor sentado ao meu lado me interrompeu:
– É algo muito raro hoje em dia! – disse de forma simpática.
Sorri, aceitando a saudação. Pretendia retomar a leitura, porém ele queira de fato conversar.
– Sabe foi com os livros que eu conquistei minha…
– Namorada? – perguntei afirmando.
– Não, a minha sogra! Ela era brava! Não queria que suas duas filhas namorassem. Estava revoltada com os homens. Naquela época não havia divórcio. Por ser desquitada não queria falar com homem algum.
– E de que forma os livros o ajudaram? – indaguei curiosa.
– Eu sempre lia no bonde e carregava nas mãos. Quando chegava na casa dela, pedia para minha namorada guardar e a mãe dela mandava eu ler um capítulo em voz alta. Então, a obrigação virou rotina. A rotina tornou-se atração da rua. A casa tinha um quintal grande. Eu me sentava no muro da varanda e lia para os visitantes. Todos gostavam! Principalmente a minha sogra que passou a vender saquinhos de pipoca e refresco de groselha.
– Quais eram os livros lidos pelo senhor?
– Vários de Machado de Assis, mas os preferidos eram da Agatha Christie! Faziam apostas para descobrir o criminoso! – afirmou sorrindo.
Nossa conversa tinha de terminar, pois a barca já havia atracado. Lamentei em pensamento porque o assunto me interessou bastante.
Ainda estávamos lado a lado durante a saída, resolvi perguntar:
– O senhor ainda lê livros para as pessoas?
– Sim, com muito orgulho estou a caminho do hospital. Sou leitor dos pacientes da oncologia. Adeus!
– Enorme prazer em saber de sua história. Muito agradecida!
Ivone Rosa
Instagram: @profaivonerosa
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Olá, Ivone!
Gosto muito dessas conversas com estranhos. O ruim desse tipo de interação é que, no melhor da história, temos que nos despedir. A continuação se dá na nossa cabeça.
Tive vontade de escrever sobre as leituras desse senhor no hospital. Já contei histórias para crianças doentes há muitos anos.
Também já publiquei um texto a partir duma live sua com o Renato Cardoso. Chama-se a “Nova Musa”.