Diário de um espectro chamado mãe – Texto: Ouviram do Mirante
O grito que liberta, o choro que limpa alma e nos renova para o próximo desafio…
A mãe atípica de hoje é aquela resiliente, grata, que está sempre tentando ver o lado bom da vida.
Sua filha, uma menina de 10 anos, autista nível 3 ou grau severo, como queiram chamar.
Era um dia normal em meio a rotina atípica das duas. Levantam cedo, se arrumam, a filha vai para terapia e a mãe vai trabalhar. Mas antes do trabalho ela faz diariamente uma pequena caminhada de 30 minutos. Ela caminha pelas ruas de sua vizinhança mesmo. Inclusive, havia próximo a sua casa uma rua íngreme que no final dava num mirante. Ela ouviu dizer que era bonito olhar lá de cima, mas nunca ia lá.
Voltando a rotina das duas, a mãe resolve arriscar um passeio. Leva a menina num parquinho novo que inaugurou perto de casa.
Chegando ao parquinho a menina já correu para os brinquedos e começou a aproveitar o momento. Tudo ia bem até a hora de ir embora.
Como toda criança, ela não queria sair do parque, mas como em todos os autistas as reações são de três a quatro vezes mais intensas, ela começa a reagir negativamente a hora de ir para casa.
A mãe fica um pouco mais para ver se a menina se contenta, porém não foi suficiente. Ela queria mais. E eles, os autistas, são assim, querem tudo ao infinito e além.
Então, retirando sua filha a força daquele parquinho, passando pelos olhares reprovadores de quem não sabe do que se trata, ela tenta sair dali o mais rápido possível.
Na confusão ela pega o celular para chamar o uber de volta para casa. Uma boa alma lhe oferece ajuda e ela aceita. Consegue o uber. Depois de uma viagem com o olhar de reprovação também do motorista, elas chegam em casa.
Ela tenta acalmar a menina e quando quase conseguia, procurou sua garrafa de estimação para lhe dar um suco com o remédio de costume. Reparou que a garrafa não estava na mochila, procurou pela casa e nada. Então começa uma nova crise, agora pela garrafa que sumiu. Quando a mãe lhe ofereceu suco em outra garrafa, a menina jogou longe.
Depois de alguns minutos de crise a menina cai no choro e se deixa abraçar pela mãe. As duas se consolam e a menina finalmente acalma e dorme. A mãe segue firme. Respira fundo, termina os afazeres do dia e dorme também.
No dia seguinte, segue a rotina normal. A mãe parece bem ao menos por fora. Elas se levantam cedo, se arrumam, a menina vai para terapia, e ela para o trabalho.
Como de costume ela faz sua pequena caminhada de 30 minutos. Dessa vez ela se desafia a subir até o mirante. Enxuga o suor da testa e vai. Chega lá em cima surpresa e orgulhosa de si mesma por ter conseguido subir. Do mirante ela olha tudo, se percebe sozinha com tudo pequenininho lá em baixo.
Sem pensar, respira fundo, puxa o ar e solta um grito bem forte, alto e longo! Apenas uma lágrima de uma lado do rosto escorreu, ela secou rápido. Respirou fundo mais uma vez e foi trabalhar. Leve, resiliente, grata, e sempre tentando ver o lado bom da vida!
Se identificou com essa situação? Conhece alguém que passa por isso?
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Josileine Pessoa F Gonçalves
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