Elias Antunes

POEMAS DISPERSOS, DE FAUSTO VALLE

POEMAS DISPERSOS, DE FAUSTO VALLE

 

Por Elias Antunes

 

Poeta sóbrio, autor de uma poesia contida e de excelente qualidade, Fausto Valle legou uma obra de encher os olhos dos apreciadores da boa poesia.

Dizem que as obsessões do poeta é que fazem seu estilo. Diria, contudo que essa obsessão seria mais o encanto que certas imagens e, principalmente, certas palavras causam no escritor. Isso serve também para rastrear seus gostos e seu percurso dentro da criação poética.

Em Fausto Valle, especificamente no livro “Poemas Dispersos”, podemos detectar, por exemplo, o uso repetido de palavras como: mesa, flores, olhos, instante, tempo etc.

Palavras que indicam uma vida rica interiormente. Um lugar da casa, como o reino último do homem, da família, lugar de recolhimento, de paz, espaço da criação:

 

“É PRECISO

 

sair da definição

viciada, ir ao cerne.

 

Mente férvida

deflagra a flexão.

 

Do odor do fogo

surge o pássaro:

novo ser impuro,

 

humana / mente

impuro, de cinzas

repleto, corruto.

 

(VALLE, 2005, p. 11)

 

No poema “poesia”, Fausto descreve como deveria ser a poesia se se encarnasse fisicamente, com o sentimento profundamente simples de um verdadeiro achado:

 

“POESIA

 

Coisa concreta

no tempo,

na memória

o esforço:

 

indecisa imagem –

pernas grossas

vestido curto

olhos grandes,

risonha – fazes.

 

Sombrinha colorida

apara o sol,

sombra no rosto

vacilante brilho –

o vulgar sublimado”

(VALLE, 2005, p. 11)

 

Mais adiante há outro poema que define não somente o espaço de recolhimento, mas novamente a metalinguagem se faz presente:

 

“DEFINIÇÃO

 

O poema

no avesso do som,

no refúgio do silêncio.

Não espero sol

nos versos que gesto.

Defino a margem

na sombra.”

(VALLE, 2005, p. 25)

 

 

De sua sobriedade, podemos verificar versos de uma leitura que foge ao simplismo e alarga nossa visão sobre as coisas e acontecimentos cotidianos, lançando suas luzes poéticas, sobretudo, com exuberância e majestade.

Um verdadeiro mestre da poesia.

 

 

Fonte da imagem: Foto do autor.

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Elias Antunes

Filho de um dos trabalhadores pioneiros que construíram Brasília, Elias Antunes nasceu em Goiânia, em 1964. Trabalhou como servente de pedreiro, vendedor ambulante, contínuo. Depois, entrou na Secretaria de Segurança de Goiás, por concurso. Bacharel em Direito, UCG, Mestrado (incompleto) em Teoria Literária, UnB. Em 1993, por concurso, entrou no Tribunal de Justiça do DF, passando a morar no Distrito Federal. Concomitantemente, foi professor do ensino médio e universitário de História da Filosofia, de Redação, de Direito e Legislação e de Teoria Literária. Seu livro de poemas “Chamados da Chuva e da Memória” ganhou o prêmio da Funarte de Criação Literária e o prêmio “il convívio”, na Itália (1º lugar). Seu romance “Suposta biografia do poeta da morte”, ganhou os prêmios: Hugo de Carvalho Ramos, 2008 (1º lugar), Prêmio Jabuti, 2011 (finalista), prêmio “il convívio”, na Itália (1º lugar). Tem 20 livros publicados e ganhou mais de 300 (trezentos) prêmios. Participa de mais de 100 antologias e obras coletivas no Brasil e no exterior. Cocriador das revistas O artesão, Rotina, Flor & sol e Linhas & Letras e dos jornais Tempoesia, Jornal de Poesia e Artefatos. Tem poemas traduzidos para os idiomas: espanhol, francês, inglês, esperanto, galego, romeno, italiano, catalão, alemão, sueco, russo e hindi. Com publicações nos países: Rússia, Itália, Argentina, Portugal, França, Estados Unidos, Espanha, Romênia, México, Suécia, Vietnã, Índia e Venezuela.

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