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Suplemento Araçá – Vol.01 – nº01 – Dez./2021 – Contos – “ATRAVÉS DE UM OLHAR” – Angela Moreira

ISSN: 2764.3751

ATRAVÉS DE UM OLHAR
Angela Moreira

Olhando aquela casa da minha varanda ficava encantada com a sua beleza.  Tinha uma bela sacada e era de janelas de vidro imensas. Nos dias de sol abriam as cortinas e deixavam a luz do sol entrar.  Ela ficava no alto, mas havia um grande portão de ferro na sua entrada. O jardim era todo gramado e havia muitas flores ao redor da casa. Como era linda! E sempre que podia ficava apreciando aquela bela casa.

Precisei viajar a trabalho e acabei ficando um mês fora. Qual não foi a minha surpresa quando cheguei na minha varanda e olhei para aquela casa. Janelas cerradas, cortinas fechadas, a grama alta, as flores murchas, tudo muito estranho. Pensei que talvez estivessem, como eu, viajando. À noite, porém não conseguia dormir e fui até a varanda e olhei para a casa, reparei que tinha alguém debruçado no alpendre da varanda da casa.

Então achei que deviam ter chegado, aí o sono veio muito rápido e acabei dormindo. No dia seguinte, corri para a janela, pois fazia sol e era uma linda manhã de domingo e para minha surpresa tudo permanecia do mesmo jeito. Fiquei muito intrigada com aquilo e resolvi me informar com os vizinhos.

Disseram que logo assim que viajei houve uma grande festa na casa e todos pareciam estar muito felizes, mas ao anoitecer foram saindo um por um em seus carros e as luzes ficaram acesas até a madrugada. Depois todas se apagaram, as janelas e as cortinas se fecharam e ninguém nunca mais foi visto entrando ou saindo daquela casa.

Falei para o meu vizinho que eu tinha visto alguém debruçado no parapeito da noite anterior. Ele disse que isso era impossível pois a casa estava deserta desde à noite da festa.32

Mesmo assim não me convenci. À noite fiquei na espreita e percebi alguém na varanda da casa andando de um lado para o outro. Mesmo preocupada e com medo, peguei o meu agasalho, calcei os sapatos e fui até a casa. O portão não estava fechado, mas a casa estava às escuras. Mesmo assim entrei, pois sabia que não tinham cachorros.

A casa estava no escuro, mas com a lanterna do meu celular fui subindo as escadas com cuidado. Tropecei em algo e meu celular caiu. Fiquei assustada, mas tateando no escuro o encontrei e percebi que tinha tropeçado em uma namoradeira. Foi aí que entendi quem ficava debruçada no parapeito da varanda. Olhei pela fresta da porta, pois a cortina estava um pouquinho aberta. Vi uma senhora sentada em uma cadeira de balanço. Parecia muito triste. Resolvi bater e para minha surpresa a porta se abriu. Ela sorriu e disse para que eu entrasse e me sentasse ao lado dela. E foi então que ela me contou o que tinha acontecido.

No final da festa houve um desentendimento sério entre as famílias, o que provocou o afastamento de todos e por isso agora ela vivia ali sozinha.

Pensei em ajudá-la, mas para minha surpresa ao sair para trabalhar na manhã seguinte, no jardim da casa tinha uma placa na qual estava escrito: Vende-se.

Falei com meu vizinho e contei o que havia feito na noite anterior. Mas ele disse que eu tinha muita imaginação, pois desde que eu tinha viajado, não tinha ninguém naquela casa. Acenei para ele e fui trabalhar sem entender nada do que tinha acontecido, mas resolvi também não mais me envolver com isso, ao menos por um tempo.

Ao retornar do trabalho, muito cansada, entrei sem olhar para a casa a minha frente. Entrei, tomei o meu banho, comi algo e logo fui dormir.

Lá pelas duas horas da manhã percebi um clarão na minha janela, tive vontade de olhar, mas preferi ignorar.

Às três horas acordei de um salto com um grito e um barulho ensurdecedor. Não aguentei, corri para a janela e percebi uma grande movimentação na casa, apesar de um pouco estranha. Fiquei olhando pela fresta da janela. Entravam pessoas e saiam a todo momento da porta principal da casa para os fundos da casa. Havia algo errado acontecendo e fiquei escondida atrás da cortina analisando tudo o que acontecia. Foi quando meu telefone tocou, apesar de receosa resolvi atendê-lo. E qual não foi a minha surpresa ao ouvir uma voz rouca do outro da linha dizer que era pra eu tomar conta da minha vida e deixar a vida dos outros pra lá.

No mesmo momento em que desliguei o telefone, quebraram a minha janela atirando uma pedra e enrolada nela uma mensagem que dizia: Não atravesse o nosso caminho.

Eles é que não sabiam com quem estavam se metendo. Apesar de morar ali já algum tempo, sempre fui cordial e educada com todos, mas mantendo uma discrição para não transparecer quem eu era e o que fazia.

Mandei consertar o vidro da janela e procurei sair mais cedo de casa e retornar com o dia ainda claro, manter minhas janelas fechadas e um silêncio quando estava em casa, reforcei todas as fechaduras, inclusive as trancas da janela e troquei o número do telefone. Algumas vezes usava a saída que dava para a rua principal. A vantagem é que a minha residência tinha entrada e saída pelas duas ruas e ninguém percebia, pois aparentemente pareciam divididas e o muro era muito alto. O que eles não imaginavam, é que eu tinha câmeras escondidas dentro e fora da casa e que alcançavam todos os ângulos possíveis.

Então mesmo aparentemente sossegada dentro de casa sabia tudo, ou quase tudo que acontecia naquela casa.

Aparentemente estavam mais tranquilos. Até que um dia percebi uma movimentação estranha naquela casa tão linda, mas sombria.

Carros entravam e saiam o tempo todo, até pequenos caminhões. Talvez fosse uma festa, quem sabe. Mas nos dias que se seguiram estava tudo calmo, ao menos quando eu estava em casa.

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Angela Moreira é professora de Língua Portuguesa, Literatura e Inglês, com Especialização em Língua portuguesa pela UERJ- São Gonçalo. Por seus trabalhos como poetisa, contista, contadora de histórias e trovadora já foi premiada na China, no México, e no Brasil. Participou de diversas antologias e publicou Um Pouco de cada coisa: Contos e Poesias e outros a caminho, além de duas peças teatrais.

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Redação

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