Renato Amaral

A Crônica da Crônica

Imagem de Bernd por Pixabay

 

Essa semana terminei de ler o livro de crônicas Os Mistérios do Aquém – Ed. Nórdica 1976, do escritor Carlos Eduardo Novaes, que através de seu humor satírico retrata fatos ocorridos no Brasil e no Mundo no ano de 1975(eu só nasceria três anos após). Parece que correu há muito tempo, mas foi há menos de cinquenta anos atrás.

Apesar de tamanha atualidade com os temas que são muito semelhantes, principalmente os temas políticos, uma particularidade chama a atenção. Se minha filha de treze anos lesse o livro, haveria de consultar alguém mais velho para sanar algumas dúvidas.

Antes de falar sobre essas curiosidades quero deixar registrado dois termos utilizados pelo autor que hoje seria impensado encontrar em qualquer texto. Como o termo “paraíba”, para designar o nordestino de qualquer Estado da região nordeste do país que morasse no Rio de Janeiro, e também o termo pejorativo “crioulo” para designar alguém afro descendente. Não acho que a solução para esses casos seja o revisionismo, porém vale destacar para aprendermos os valores da época e o contexto histórico.

Fora a questão lingüística, um jovem que estivesse com o livro em sua frente se veria em palpos de aranha para entender algumas partes ou termos utilizados, como nos casos em que numa das crônicas ele fala sobre o telefone de disco, Até hoje podemos ouvir as pessoas com mais idade pedir para discarmos um número de telefone para eles. O assunto em voga naquele ano versava sobre a extinção do Estado da Guanabara, com a perda da Capital Federal e a fusão com o Estado do Rio de Janeiro. Ainda há menção sobre a censura, sobre a Guerra Fria e sobre a corrida nuclear. Outros casos são inimagináveis, como a cobrança telefônica por impulsos. Para quem nasceu numa geração digital fica difícil entender o medo e o deboche aos computadores que ainda começavam a despontar numa época em que o Curso de Datilografia era obrigatório para se arrumar um emprego. Talvez o que os jovens de hoje achariam mais bizarro naquela época era que se fumava em todos os lugares. Além da farta publicidade dos cigarros, em qualquer lugar havia lugares para fumantes e não fumantes, Até em avião era possível fumar. Assim como no ônibus, barcas, escritórios, bancos, supermercados, escolas, consultórios médicos e até em hospitais.

Por essas e outras deposito na leitura uma das mais belas formas de aprendizado. Esse simples livro de crônicas é um grande exemplo de como podemos enriquecer em conhecimento com a Literatura.

Leiam sempre!

Por Renatto D’Euthymio

Instagram: @renattodeuthymio

 

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Renatto D'Euthymio

Renatto D'Euthymio, carioca de Santa Tereza, dividindo residência entre São Gonçalo - RJ e a pacata e inspiradora, São José do Calçado no Estado do Espírito Santo. Estudante Rosacruz, técnico em Radiologia, flamenguista fanático e apaixonado pelas filhas Rannya e Rayanne. Cultiva desde criança uma paixão pelos livros e seus gênios. Autor do livro de poemas Solilóquio Antes e Depois da Forca (2020) e do livro de humor O Tabloide Jocoso (2021). Premiado em dezenas de concursos literários (Poesia, Crônica, Conto e Microconto), e publicado em Antologias e Coletâneas. É tão ligado à Literatura que de vez em quando não se contém e atreve-se a rabiscar algumas linhas.

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