João Rodrigues

São João é outro clima!

“Quando o mês de junho chegar / Eu vou, eu vou me esfarrear”. (Os 3 do Nordeste)

Aqui no interior é assim: em janeiro a gente espera o inverno chegar – que às vezes vem-não-vem, mas sempre vem –, planta, colhe, chega fins d’água e aí se começa a esperar o mês de junho.

Por quê? É São João, é festa junina, é forró, é fogueira, é alegria, é cultura e tradição. É bom demais! É a festa nordestina colorida com muito xadrez, estampados, animada com muito forró, temperada com muitas comidas típicas e regada a muita cachaça também.

Agora imagine você percorrendo aquelas estradas de chão, chegando naquela igrejinha de interior com sua pracinha de poucos bancos – ou sem pracinha – enfeitada de bandeirinhas de todas as cores, o forró troando, as barraquinhas de latada cheia de gente bebendo; nos aceiros, as vendinhas de bolo, canja, panelada; uma panela cozinhando milho verde na hora, com a fumaça subindo no ar; o cheiro da carne assada na brasa se misturando com os outros cheiros; um gritador de leilão dizendo “Dá-lhe uma, dá-lhe duas, dá-lhe três… vendido!”, meninos soltando bombinhas e pulando a fogueira; e mais pro final da festa um par de bêbados, inevitavelmente, abrindo um fuazinho, só pra não perderem o costume.

Mas São João é muito mais do que isso: tem aquela parte que nenhum cronista consegue explicar, por mais que tente, por mais que sinta, as palavras não dão conta de expressar. É aí que entra o sentir, a paixão, o viver de uma vida que só quem é daqui conhece, porque já vive isso desde o ventre da mãe. É um sentir que vem impregnado na alma e que se constrói a partir de um cotidiano ímpar, no caminhar passo-a-passo pelas estradas molhadas ou empoeiradas, no toque da sanfona, no ritmo do forró, no gosto do baião-de-dois, nos primeiros tragos de cachaça – que desce rasgando a goela –, nas primeiras paqueras à beira da fogueira, pelos terreiros, nas brincadeiras de roda. Enfim, cada um tem seu modo de costurar essas vivências, mas que acabam, de uma forma ou de outra, se encontrando nesse costurar.

No momento, o que mais importa é que o inverno foi bom, o São João chegou, os festejos do Riacho das Flores já começaram, as pessoas reincorporaram o espírito junino e já estão festejando como deve sempre ser São João – cada um em sua unicidade, mas com um sentimento único: de que a vida deve ser celebrada diariamente, e mais ainda neste período. Não é fácil explicar o que é São João…

A verdade é que São João é outro clima!

João Rodrigues – Riacho das Flores – Reriutaba – Ceará

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João Rodrigues

Nascido em Riacho das Flores, Reriutaba-Ceará, João Rodrigues é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estácio de Sá – RJ, professor, revisor, cordelista, poeta e membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes e da Academia Virtual de Letras António Aleixo. Escreve cordéis sobre super-heróis para o Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (NuPeQ) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

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