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Suplemento Araçá – Vol.02 – nº04 – Out./2022 – Crônicas & Opiniões: “ECOS MODERNISTAS EM TERRAS FLUMINENSES” – Erick Bernardes

ISSN: 2764.3751

ECOS MODERNISTAS EM TERRAS FLUMINENSES
Erick Bernardes[1]

Existiu no Leste Fluminense, mais especificamente em São Gonçalo, um casarão nomeado “Palacete do Mimi” que foi um marco para a região, e não será exagero afirmar ter esse lugar exercido importância cultural para o Estado do Rio de Janeiro como um todo. Isso se explica devido ao fluxo de pessoas importantes que frequentavam as dependências do casarão: havia concursos de beleza feminina, jogos diversificados, além de muitas reuniões políticas e culturais. A suntuosidade atingia toda a estrutura do prédio, algo significativo, revelando a grandiosidade e crescimento econômico de uma mínima parcela da população.

Localizado no 2º distrito, na Estrada do Boqueirão Pequeno, no limite entre o Galo Branco e a Estrela do Norte, em um relevo de terreno, foi erigido entre 1917 e 1925. Visto como objeto de arquitetura eclética, por ser neorrenascentista e neoclássico no empreendimento, de fato o prédio chamou bastante atenção. Sabe-se que o italiano Ernesto Primo, dono de comércio para os lados de Niterói, foi quem deu o pontapé inicial na construção do Palacete. Isso aconteceu no auge do crescimento de uma certa elite do Estado do Rio de Janeiro e chegou a se tornar palco de situações históricas relevantes para a região. Suas suntuosidades e importância artística foram tantas que servem ainda hoje aos versos em redondilhas do cordel do poeta Zé Salvador:

 

Recebeu nos seus salões,

a pintora modernista

Tarsila do Amaral,

também estão nesta lista:

Oswald e Mário de Andrade

e Paulo `Prado o artista

 

Da sociedade local,

Seu Américo Salvatori,

sua esposa Antonieta,

e numa ideia, a priori,

os potentados da terra,

verdade ou não, que vigore.

 

Passou lá Vila Lobos,

o músico muito afamado;

Villela Corrêa Bastos

Um milionário abastado,

também passou Graça Aranha,

que foi ministro de Estado

(Palacete do Mimi, Zé Salvador, 2019).

Naquela época, embora São Gonçalo fosse majoritariamente rural, possuía indústrias de tecidos, fábricas de maquinário e compactação de peixes e derivados; por isso, a prosperidade tomava proporções enormes, se comparadas com os lugares adjacentes. Tanto atrativo cultural trouxe para São Gonçalo artistas que constituíram a primeira reunião substancial do Estado do Rio de Janeiro incluindo os ícones pertencentes ao Movimento Modernista da Semana de 22. E isso, pasmem, caros leitores, aconteceu justamente no Palacete do Mimi. Estiveram na referida reunião a conhecida Tarsila do Amaral, os queridíssimos Villa-Lobos, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Di Cavalcanti, dentre muitos outros. Inegável reconhecer a importância de São Gonçalo no cenário cultural naqueles tempos.

Para o professor Eduardo Marques da Silva, o Palacete do Mimi hoje se encontra extinto por completo; no entanto, ele “foi sem sombra de dúvida mais que um retrato, foi um emblema do que fomos capazes de produzir de riqueza e, principalmente, do que podíamos fazer no futuro; sem exagero algum, sua preservação seria um sério e significativo desafio”. Ademais, somente a lembrança desse lugar de destaque para os gonçalenses permanece entre nós e, em especial, por ser considerado símbolo de um tempo de glamour.

Em síntese, o Palacete do Mimi, de fato, representou para São Gonçalo de Amarante “um passado de esplendor inigualável, mas esquecido hoje infelizmente, glamour e riquezas consideráveis (…) um convite ao prazer visual e ao bom gosto” (SILVA, 2014). Um espaço de memória e de nostalgia destruído pelo vandalismo. Ecos da presença dos artistas modernista no Leste Fluminense. São só lembranças.

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Fontes:

SALVADOR, Zé. Palacete do Mimi, no Boqueirão Pequeno: Série São Gonçalo em Cordel, n. 5. Rio de Janeiro: ABLC, junho\2019.

BERNARDES, Erick. Tarsila, Drummond e o Cassino do Mimi na Estrela do Norte. In:

https://www.jornaldaki.com.br/post/2018/08/19/tarsila-drummond-e-o-cassino-do-mimi-na-estrela-do-norte-por-erick-bernardes

SILVA, Eduardo Marques. “O Palacete do Mimi em simbologia e significado”. In: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/14/9/o-palacete-do-mimi-em-simbologia-e-significado

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[1] Mestre e Especialista em Estudos Literários pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro – FFP/UERJ.

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