João Rodrigues

Ufa!!!

Quando dei por mim, já era sexta-feira!

Eu havia esperado por esse dia como um menino espera pela noite de Natal. Só que, no corre-corre da apertada rotina de trabalho, com o tempo correndo feito um trem-bala, nem me dei conta de que aquela data tinha chegado. Por acaso abri minha agenda e lá estava, numa letra cursiva mal escrita: “Resultado final do III Concurso de Cordel”.

Admito que não tenho mais idade para andar ansioso, pois nesta minha jornada de meio século bem vivido, a vida já tentou me ensinar isso incontáveis vezes. Porém, por mais que a gente tente controlar a ansiedade, em dias especiais assim não tem jeito – ela bate. E como!

Saí para o trabalho pensando nisso. Eu já estava entre os dez finalistas – que foi meu primeiro objetivo, no entanto agora almejava chegar ao pódio. No fundo do meu coração, eu já desejava ser o primeiro. Quanta ousadia! O primeiro lugar de um concurso nacional não é pra qualquer um (mas alguém tinha que ganhar, por que não podia ser eu?). Além do mais, eu tinha acabado de ficar em segundo lugar em outro concurso recente. Portanto, ao mesmo tempo em que eu acreditava ser possível chegar ao título dessa vez, o resultado anterior vinha à minha mente me dizendo que sempre há alguém melhor do que a gente (que complexo de inferioridade!). Mas logo comecei a imaginar que esse “alguém” poderia ser eu. Assim, não havia motivo pra ficar me martirizando daquela forma; afinal, o resultado já estava definido fazia dias, então o melhor a fazer seria dar minha aula em paz e aguardar o resultado, que sairia por volta das onze daquela manhã.

Controlei minha ansiedade, mas só até o alarme da escola soar onze horas. A premiação seria ao vivo, via internet, então eu chegaria a tempo de assistir. O peito bateu mais forte. Passei a acreditar que seria o vencedor desta vez, pois meu cordel estava muito bem escrito, eu sabia disso; só me esqueci de que não sabia como estava os dos concorrentes.

Em casa, peguei o celular e acessei o link da reunião. Já havia começado. Estavam lendo os cordéis finalistas. Em seguida, o meu foi lido. O público se empolgou. Sonhei com o topo do pódio por um breve momento, mas logo me lembrei de que a plateia não decidia nada. Maktub! O destino já havia decidido. Um misto de esperança e incredulidade me invadiu. A hora de sair pra meu segundo turno de trabalho se aproximava, não daria pra ver o resultado final.

Minha esposa chegou, ansiosa, pois estava assistindo também em seu trabalho.

– E aí, tá ansioso? – perguntou, ansiosa também.

Olhei pra ela com aquela cara, que não precisou dizer mais nada.

Minha carona chegou.

A apresentadora falou que em minutos começaria a premiação, que seria do décimo colocado ao primeiro, nessa sequência. Pensei em ligar para o trabalho dizendo que iria me atrasar um pouco, mas desisti. Seria melhor mesmo ir trabalhar, assim não veria a decepção de não ficar entre os três. Na verdade, àquela altura, eu já queria o primeiro lugar.

Saí. Minha esposa e meu filho me desejaram boa sorte. Agradeci.

Quando cheguei a uma distância de uns dois quilômetros de casa, meu celular tocou.

– Campeão! Você foi o campeão! Ganhou o primeiro lugar! Parabéns!

Era minha esposa.

A essa altura, o celular já estava no viva voz, e meus companheiros do carro vibraram comigo. A ansiedade se dissipou feito neblina com a chegando rompante do sol. Por outro lado, quase que a emoção me entala. Vibrei muito por dentro. Afinal, não é todo dia que se conquista um primeiro lugar em um Concurso de Cordel.

Por fim, senti o troféu de primeiro lugar empurrando o de segundo goela abaixo, e sorri, aliviado.

Ufa!!!

 

Imagem: https://pixabay.com/pt/vectors/trof%c3%a9u-vencedor-copa-campe%c3%a3o-ouro-4145177/

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João Rodrigues

Nascido em Riacho das Flores, Reriutaba-Ceará, João Rodrigues é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estácio de Sá – RJ, professor, revisor, cordelista, poeta e membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes e da Academia Virtual de Letras António Aleixo. Escreve cordéis sobre super-heróis para o Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (NuPeQ) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

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