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Morro Branco

Morro Branco

 

O sol acorda antes das seis, beijando o mar. Seus raios pintam as águas de diversas cores, como se Monet tivesse lançado sobre uma tela toda a sua inspiração. A brisa espalha seu hálito puro pelo ar, que enche meus pulmões, os quais inspiram profundamente para logo depois expirar tão leve quanto a própria brisa, como se estivessem meditando.

Empurrada pelo vento, uma gaivota abraça o espaço, ganhando a imensidão azul celeste, que ofusca meus olhos, e some num piscar de olhos por trás de um morro branco de areia vigiado por um imenso farol que se destaca ao longo da praia.

Caminho vagarosamente pela areia molhada, sentindo a água pulsar sob meus pés, e sinto uma paz encontrada somente por uns poucos que têm a coragem de acordar antes do astro-rei e fazer uma caminhada àquela hora da manhã.

As águas mornas mansamente beijam a areia, e as espumas brancas acariciam meus pés, como se me dessem as boas-vindas. Sorrio intimamente, minha alma é agraciada com uma imensa paz de espírito de fazer inveja a qualquer monge tibetano e agradece aos céus por aquele momento tão especial, em que homem e natureza se encontram em um estágio de pureza, como assim o foi nos primeiros dias do Éden.

Caminhando ao lado do gigante Atlântico, observo as ondas em seu vai e vem, umas após as outras, brincando de pega-pega, pintando as areias de espumas brancas, que morrem a cada retorno das águas ao mar para logo depois renascerem nas próximas que chegam correndo, e assim vão, incansáveis, seguindo seu curso.

Apesar de embelezado por aquele pedaço selvagem da natureza, é preciso registrar aquele momento na memória de meu celular também. Aponto-o para o sol, para o mar, para a areia salpicada de conchinhas de diversas cores, para todos os lugares e registro-os de vários ângulos, tentando guardá-los todos em um mesmo local, onde eu possa revê-los tão logo terminar meu passeio e sentir a necessidade de buscar, por um momento que seja, aquela paz encontrada naquela bendita manhã de caminhada à beira mar.

Alguns versos surgem à minha mente, e registro-os em vídeos e áudios para transcrevê-los quando eu retornar à minha pousada. Na verdade, gostaria de esticar mais o meu passeio, mas meu estômago, insensível às belezas naturais que me rodeiam, esbraveja, exigindo seu café da manhã. Não o contesto, pois se eu assim o fizer, logo ele me castigará com algumas fisgadas incômodas.

Dou um mergulho nas águas mornas e brinco com as ondas por alguns curtos minutos, que carinhosamente me empurram de volta para a areia, enquanto outras, fagueiras, teimam em me mandar de volta às águas.

Apesar daquela brincadeira gostosa, tenho que ir, e me despeço com a alma agradecida por aquele encontro maravilhoso, em que homem e natureza convivem pacificamente, como deveria ser todos os dias.

Já sinto a saudade batendo na porta do meu peito.

 

Imagem: arquivo do autor

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João Rodrigues

Nascido em Riacho das Flores, Reriutaba-Ceará, João Rodrigues é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estácio de Sá – RJ, professor, revisor, cordelista, poeta e membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes e da Academia Virtual de Letras António Aleixo. Escreve cordéis sobre super-heróis para o Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (NuPeQ) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

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