Oswaldo Eurico Rodrigues

O presente inusitado

O presente inusitado

Noutro dia, escrevi a crônica “Ainda não saí da escola”. Lá, eu prometi contar para você sobre um presente recebido. Como, em nossa terra, existe o costume de se abrir as lembranças na frente de todos, retiro agora da embalagem o prêmio inusitado. Sem desfazer os laços de ouro que o envolviam.

Foi por ocasião do meu aniversário. Meio século mais 365 dias na esperança de dobrar esse número. Desci a rampa duma das escolas onde trabalho. É um local muito agradável com pátios amplos e arejados. No caminho, os parabéns! Bilhetes, desenhos, selfies… Entrei na turma 803 do oitavo ano do Ensino Fundamental. Era um dia de revisão. Acabei sendo avaliado e tendo os sentimentos revividos e reafirmados. Dentre tudo que ganhei naquele dia, algo me chamou muito a atenção. Acredito ser o primeiro até hoje a receber algo assim tão singular no dia do aniversário ou mesmo fora dele.

Se você tem a mim como seu professor, já deve imaginar que ganhei um livro raro! Não! Livros raros são presentes valiosos, inesquecíveis, mas (graças a Deus) não seria o primeiro a receber um livro único ou esgotado no mercado, confeccionado a mão etc… Outros já foram agraciados assim (eu também) e existe a possibilidade de continuarmos recebendo livros especiais de presente. Dia desses, ganhei, das mãos do próprio autor, o Cambada, coletânea de crônicas do conterrâneo Erick Bernardes sobre São Gonçalo. É um livro vermelho no tom inesquecível das coisas vívidas desse mundo. O segundo livro da cambada é azul. Azul que eu sempre chamei de real. Fechando a trilogia, o Cambada III. Dessa vez a cor é a branca. E a trilogia está hasteada na Terra Querida do Fundo da Baía da Guanabara! Somos livres para ler, podemos igualmente nos emocionar e pensarmos sobre o nosso lugar resumo de todo o mundo e, melhor ainda: fraternalmente compartilhamos dos textos. (Não raro, talvez você seja um dos personagens). Fechando a janela (sem guilhotina), vamos voltar aos regalos, como diriam os portugueses!

Segunda chance de você adivinhar! Pen-drive? Cartão de presente de uma loja? Leitor de textos? Ingresso para uma ópera? Uma resenha sobre alguma obra dum autor do cânon da literatura universal? Está longe de acertar! Uma pacote de viagem para qualquer lugar do mundo? Nada disso. Vou dar uma pista: é algo comestível! Verde! Vegetal! Brasileiríssimo!

Já voltou da pesquisa naquele site famoso? E aí? Descobriu? Já se acalmou? Estou prestes a revelar o objeto da minha alegria! Suas reações possíveis: riso, um palavrão ou “fiquei aqui até agora para descobrir isso?” Novo palavrão! Ou novas gargalhadas. Se você me conhece pessoalmente, já deve saber do ingrediente do meu almoço desse dia inesquecível.

Eu ganhei uma caixa austera em tons marrons com visor transparente e com laço cor de cobre. Dentro dessa caixa, alguns jilós! Se você não é brasileiro, talvez não conheça esse fruto. Seu sabor é único. Amargo, mas capaz de ser transformado em uma compota apreciadíssima. Uma amiga prepara recheios de pastéis e lasanhas com jiló. Ela sabe retirar o amargo do fruto com procedimentos simples. Aliás, ela tem tornado a convivência no nosso grupo social algo mais justo através das suas observações sempre a temperar nossas conversas. Eu falo da Kelly Castrioto, uma pessoa incrível, que um dia também me deu um presente inesquecível (além da sua amizade). Foi uma agenda chamada “Agenda da Tribo”. Ela veio a mim com dedicatórias dela e de várias pessoas com as quais mantinha contato na época. Fiz anotações pessoais nas páginas das lembranças de um dia. Quando estiver garimpando, vou trazer algo de lá para cá.

Por enquanto, vou ficar devendo a você o nome de quem me presenteou. A mãe da pessoa estava envolvida. A homenagem foi dupla portanto. Quem me conhece sabe das minhas brincadeiras com esse fruto de sabor tão único. Meus alunos nunca esquecem. Esse resolveu deixar marcado uma lembrança muito agradável na minha vida. Afinal de contas, sabendo-se lidar com o amargo, o doce sempre aparece.

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