Elias Antunes

TRADUÇÃO E POESIA

TRADUÇÃO E POESIA

Por Elias Antunes

A frase por demais conhecida: “tradutor/traidor” encaixa-se de forma cabal na poesia. Ao transpor um poema para outro idioma pode-se perder algo no processo. Isso ocorre, principalmente, em se tratando de poemas tradicionais, os quais apresentam métrica e rima.

Ao trabalhar com a tradução de poesia, começa-se, em primeiro lugar, com as comparações e com outras traduções.

Até um poeta genial como Jorge Luis Borges iria tomar o caminho da reconstrução, mas deve-se buscar uma certa fidelidade, ou melhor, cumplicidade com o poema original.

Se algo deve ser sacrificado na tradução, prefiro ser fiel à ideia e não à musicalidade. Já li algumas traduções que optaram pela rima e a música e resultaram em verdadeiros desastres: perdem a ideia, o enunciado e a música termina não sendo o melhor a se dizer.

Exemplo disso está nas traduções de “O Cemitério marinho”, de Paul Valéry. Algumas traduções colocaram o excelente poeta francês comparado a um poeta popular, pobre de ideias e de música capenga.

Isso deve ocorrer da pior forma com a retradução de línguas distantes da realidade do idioma de chegada.

Como traduzir uma frase com um adágio que traz musicalidade e ideias interessantes? Dificilmente conseguiria reunir tudo isso em uma tradução e, ainda por cima, procurar manter o tamanho do poema, a disposição dos versos.

Não é por isso, todavia, que não se deve traduzir o poema. A tradução é um grande exercício de criação e ninguém (ou poucos) poderão ser poetas na mais profunda acepção do termo, sem fazer traduções de poemas, reencarnando a poesia com a roupagem de outro idioma.

 

Fonte da imagem: Foto do autor.

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Elias Antunes

Filho de um dos trabalhadores pioneiros que construíram Brasília, Elias Antunes nasceu em Goiânia, em 1964. Trabalhou como servente de pedreiro, vendedor ambulante, contínuo. Depois, entrou na Secretaria de Segurança de Goiás, por concurso. Bacharel em Direito, UCG, Mestrado (incompleto) em Teoria Literária, UnB. Em 1993, por concurso, entrou no Tribunal de Justiça do DF, passando a morar no Distrito Federal. Concomitantemente, foi professor do ensino médio e universitário de História da Filosofia, de Redação, de Direito e Legislação e de Teoria Literária. Seu livro de poemas “Chamados da Chuva e da Memória” ganhou o prêmio da Funarte de Criação Literária e o prêmio “il convívio”, na Itália (1º lugar). Seu romance “Suposta biografia do poeta da morte”, ganhou os prêmios: Hugo de Carvalho Ramos, 2008 (1º lugar), Prêmio Jabuti, 2011 (finalista), prêmio “il convívio”, na Itália (1º lugar). Tem 20 livros publicados e ganhou mais de 300 (trezentos) prêmios. Participa de mais de 100 antologias e obras coletivas no Brasil e no exterior. Cocriador das revistas O artesão, Rotina, Flor & sol e Linhas & Letras e dos jornais Tempoesia, Jornal de Poesia e Artefatos. Tem poemas traduzidos para os idiomas: espanhol, francês, inglês, esperanto, galego, romeno, italiano, catalão, alemão, sueco, russo e hindi. Com publicações nos países: Rússia, Itália, Argentina, Portugal, França, Estados Unidos, Espanha, Romênia, México, Suécia, Vietnã, Índia e Venezuela.

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