Ivone Rosa

OURO PERDIDO

Faz mais de cinco anos, eu estava muito apressada durante o intervalo do almoço e a correria para outra escola. Fui até uma agência bancária fazer um depósito. Carregava uma bolsa pendurada sobre o ombro, mais uma sacola com pastas de provas e um livro na mão.

Dentro da agência apoiei o envelope sobre o livro num balcão de acrílico, logo após fiz o depósito e saí correndo para o trabalho deixando no balcão o livro, uma biografia de Olga Benário Prestes!

Quando cheguei à escola, lembrei-me do livro, e o fator mais agravante: era emprestado! Pânico! Coração disparado, gelo na barriga e mãos também geladas…o que fazer? Não podia sair no horário de aula. Só me restava esperar o horário da saída, às dezessete horas com a agência já estaria fechada, e alimentar a esperança para alguém de coração que tivesse encontrado e deixado com o gerente…

Nunca uma tarde se arrastou tanto! A cada cinco minutos olhava meu relógio. Os ponteiros pareciam não saírem do lugar. Finalmente o sinal esperado tocou! Disparei pelas ruas cruzando entre pessoas indecisas, calçadas esburacadas e outras sem meio fio. Corria com pensamentos que tentavam me punir: como pude ser tão dispersa? Logo um livro, que não era meu! Justamente naquela agência bancária, muito popular, frequentemente lotada! Alguém deve ter levado. Justamente no capítulo que estava tão bom! Agora terei de comprar dois livros; um para devolver e outro para eu acabar de ler…

Atravessei a rua, cheguei à porta com o nariz no vidro fumê para tentar enxergar algum funcionário. Após quase dez minutos de angústia, veio um segurança, com as mãos na cintura e um olhar reprovador, disse:

– A agência já fechou, senhora! – falou com a voz alta e firme.

– Sim eu sei, eu só queria falar com o gerente para ….

O guarda já balançava a cabeça negando qualquer favor e sem me deixar concluir. Desesperada bati novamente no vidro e encurtei a solicitação:

– Moço, esqueci meu tesouro! – gritei.

Empreguei o termo conotativo para retomar à atenção. Deu certo! Rapidamente ele virou-se com um olhar interrogativo. Não o deixei perguntar nada! Falava rápido e sem pausas sobre o ocorrido, caminhando ao redor do banco e apontei para o balcão, quando avistei o meu valioso objeto. Ele estava lá! No mesmo lugar! Intacto!

Eu ria, ria muito, ria alto, ria e olhava para o céu agradecendo com lágrimas.

Disse ao vigilante quando finalmente entregou-me o livro:

– Vale ouro!  Muito obrigada! – Infelizmente poucos sabem! – pensei.

Mês passado, estava em  um restaurante e após o almoço fui retocar a maquiagem, esqueci meu batom no banheiro. Não havia sentado à mesa quando lembrei-me do cosmético deixado sobre a pia, retornei ao local em menos de cinco minutos… e o batom? Não estava mais lá!

Não lamentei, apenas sorri.

Ivone Rosa

FIM

Referência Imagem:https://pixabay.com/pt/photos/an%c3%a1logo-arte-caixa-peito-show-2842521/

 

 

 

 

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Ivone Rosa

Professora de Literatura & Produção Textual Pós- Graduada em Gestão Educacional Roteirista formada pela Academia Internacional de Cinema-AIC/RJ Poetisa, cronista e contista 1º lugar - melhor intérprete Concurso Poesia SESC Niterói/RJ Menção Honrosa -Concurso Poesia -Duque de Caxias /RJ Participações: Antologia Diário da Poesia, Biografia Jornalista Jota Sobrinho, Diário em Poemas, Almas em prosa e verso, Coletânea Diários Escritos. Participações nos Fanzines: Poezine[Lit.na Varanda] e SerMentes - Sec.Educ.Niterói/RJ Palestrante Escola Pública sobre a Resistência da Mulher

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