Nosso Cordel – “Eu matei Lampião” – Massilon Silva
–Nosso Cordel: “Coluna destinada a publicação de cordéis de escritores acima de 18 anos. Basta enviar para: revistaentrepoetasepoesias@gmail.com (por favor, colocar as devidas identificações)”.
________________________
Fonte da imagem: https://pixabay.com/pt/illustrations/nordeste-brasil-sert%c3%a3o-caatinga-1049943/
________________________
EU MATEI LAMPIÃO
Massilon Silva
Ao leitor quero pedir
Um minuto de atenção
Para o que vou relatar
Fazendo demonstração
Quero revelar ao povo
Como matei Lampião
Devo antes relatar
Que o temível Virgulino
Tão conhecido e famoso
Em todo chão nordestino
Como ele foi conduzido
Pelas rédeas do destino
Sua morte em 38
Não foi o fim do cangaço
Não exterminou os bandos
Que prosseguiram seus passos
Invadindo e espancando
Causando grande embaraço
O inventor do cangaço
Também não foi Virgulino
Antes dele já reinaram
O famoso Jesuíno
E depois deste mais outro
Chamado Antonio Silvino
Cabe ainda refletir
Que o famoso bandoleiro
Representou um fenômeno
Do nordeste brasileiro
E que no contexto histórico
Foi só mais um cangaceiro
A história do cangaço
Em romântica visão
Relata que os vingadores
Tiveram nobre missão
Mas na verdade formaram
Temida instituição
A sua origem remonta
Aos tempos imperiais
Firmando-se nas disputas
Entre famílias rivais
Umas destruindo as outras
Era isso e nada mais
Sua força de trabalho
Estava sedimentada
Na miséria nordestina
Então bastante arraigada
Os pais perdiam seus filhos
Sem poderem fazer nada
Nascido perto do ocaso
Do milênio que passou
O Jesuíno Brilhante
De quem muito se falou
Foi dos homens do cangaço
Seu principal precursor
Aclamado pelos pobres
Morreu em Brejo da Cruz
O Cangaceiro Romântico
Cuja história seduz
No fim de 1800
Encontrou a própria cruz
A ele seguiu-se outro
Não muito menos famoso
De nome Antonio Silvino
Atirador fabuloso
Chamado Rifle de Ouro
Valente e audacioso
Abandonou o cangaço
Bem poucos anos depois
Passando a Sinhô Pereira
Mais sanguinário entre os dois
Que em 907
A bandido se propôs
Sinhô Pereira foi um
Bandoleiro de visão
Abandonou sua tropa
Mas não quis a extinção
Transferindo em 22
O comando a Lampião
O Virgulino temido
Continuou a missão
E durante muito tempo
Foi o terror do sertão
Agora vou detalhar
Como matei Lampião
Foi no ano 32
Que o processo começou
Com o voto feminino
A mulher participou
Das garras da tirania
Aos poucos se libertou
Uni as leis trabalhistas
43 foi o ano
Garantindo a quem trabalha
Tratamento mais humano
Libertando o nordestino
De um sistema tirano
Mas não parei por aí
Mesmo em condições amargas
Fiz nascer a PETROBRAS
E a riqueza veio às largas
Fechava-se aí um círculo
Foi a chamada Era Vargas
Essa fase foi propícia
Para o desenvolvimento
Do Brasil e do Nordeste
Mostrou ser um bom momento
Deu vez ao povo sofrido
Minorou seu sofrimento
No ano 55
Chegou a vez da Bahia
Paulo Afonso inaugurada
Foi motivo de alegria
O cangaço agonizava
Ali Lampião morria
Asfalto em pleno sertão
O nordeste interligado
Caminhões pelas estradas
Transporte facilitado
De Recife a Salvador
Tudo estava iluminado
A ideia de Delmiro
Que Apolônio aproveitou
Trouxe também Moxotó
A quem seu nome emprestou
E mais tarde Itaparica
Ao Complexo se juntou
A seca que castigava
O nordeste brasileiro
Pôde ser minimizada
Mesmo sem ser por inteiro
Com açudes que construí
Perseguindo o bandoleiro
57 a 60
Por ordem de construção
Boqueirão depois Arara
Orós o maior de então
Deu gosto ver coisa rara
Tanta água no sertão
Quando criei a SUDENE
E outros órgãos também
Dei mais vigor ao nordeste
E às riquezas que tem
Mostrei seu potencial
Para fronteiras além
Este órgão estatal
Atuou com precisão
Viabilizou projetos
De peso na região
Trouxe progresso e riqueza
Dinamizou o sertão
Alavancou a indústria
Com enorme rapidez
E no setor de transporte
Viu-se enorme fluidez
Ninguém pode calcular
Tudo que a SUDENE fez
A construção de Brasília
Foi mais um tiro mortal
Em Lampião e Corisco
E todo seu arsenal
A força do nordestino
Construiu a capital
O candango nordestino
Foi ao Planalto Central
Com a força do trabalho
Que lhe é tão natural
Instalou-se e construiu
O Distrito Federal
Quando no ano 60
Do século que passou
O dirigente de então
A cidade inaugurou
Ao restante do país
O Centro Oeste integrou
Construí aeroportos
Estradas e ferrovias
Empreguei os nordestino
Distribuí as fatias
Do grande bolo da vida
Modificando seus dias
O legado de miséria
Via-se em grande embaraço
Raiava uma nova aurora
Eliminando o fracasso
Pais já não perdiam filhos
Para o mundo do cangaço
Mas não parei por aí
O brasileiro exigia
A indústria no nordeste
Se espalhava e se expandia
Precisava fazer mais
Mais e sempre a cada dia
As usinas hidrelétricas
Até então instaladas
Ao longo do São Francisco
Foram por mim ampliadas
Dei-lhes estabilidade
Com obras bem planejadas
Vencidos os obstáculos
Que encontrei pelo caminho
Movendo mundos e fundos
Afastei pedra e espinho
Em pleno sertão baiano
Edifiquei Sobradinho
Inaugurada em 80
Essa obra colossal
Milagre da engenharia
Nunca se viu outra igual
Deixou o sertão baiano
Parecendo o Pantanal
Um dia o Padre Vieira
Previu de cima do altar
E a predição do prelado
Veio a se concretizar
Confirmando a profecia
“O Sertão Vai virar Mar”
Floresceu agricultura
Onde imperou a estiagem
Mais de 300 quilômetros
A extensão da barragem
Cobrindo tudo de verde
Modificou a paisagem
Juazeiro e Petrolina
Cresceram como jamais
Suas áreas irrigadas
São feitos monumentais
Hoje essas duas cidades
Mais parecem capitais
O lago fornece água
Permitindo irrigação
A aridez da caatinga
Transmudou-se em plantação
Entregando ao mundo inteiro
Uva laranja e melão
Xingó em 94
Das turbinas viu-se o giro
Hidroelétrica inaugurada
Com grande salva de tiros
Lampião naquele dia
Deus seus últimos suspiros
Na região fronteiriça
De Sergipe e Alagoas
Fiz nascer grandes cidades
Com milhares de pessoas
Instaurei dignidade
Por entre pedras e croas
O entorno de XINGÓ
Que da CHESF é a maior
Anda hoje a passos largos
Tudo é novo ao seu redor
Cidades com outra face
Usufruem do melhor
O Comércio tem pujança
Houve uma transformação
Ao cabo de poucos anos
Deu-se uma revolução
O lago oferece o peixe
A terra duplica o pão
Indústria multiplicada
Estradas se construíram
Onde era terra é asfalto
Escolas logo surgiram
Com o povo trabalhando
As cidades progrediram
Poço Redondo e Piranhas
Olho d`Água e Canindé
Delmiro Piau Tapera
Fazendo belo tripé
O transporte é abundante
Ninguém mais viaja a pé
Perímetros irrigados
A região tem aos montes
De um lado a outro do lago
A montante e a jusante
Tudo é desenvolvimento
Nenhuma voz dissonante
Pedro Cândido e os coiteiros
Zé Rufino Manoel Neto
João Bezerra e Luiz Pedro
João Firmino e Aniceto
Tudo é coisa do passado
De avô contando pra neto
No ano de 38
O Capitão pereceu
No lugar de nome Angico
Porém o legado seu
Ainda por muito tempo
No sertão sobreviveu
Já diz o velho ditado
Que cego é quem não quer ver
Quem hoje vai ao nordeste
Não deixa de perceber
Que o cangaço e cangaceiros
Eu fiz desaparecer
Quem estudar o nordeste
Do Império até agora
Fizer as comparações
Com este Brasil em fora
Constatará a verdade
Que destas linhas aflora
Quem pesquisar o cangaço
E seu fim como se deu
Aos poucos agonizando
Seu território perdeu
Se entender os motivos
Vai descobrir quem sou eu
Todo desenvolvimento
Sua marcha sem regresso
Crescimento a olhos vistos
As histórias de sucesso
E analisar sem paixão
Saberá que Lampião
Foi morto pelo PROGRESSO.
F I M
Massilon Silva
Aracaju – Sergipe
E-MAIL: massilonsilva00@gmail.com