Michelle Carvalho

Namorando o mar

 

 

Na linha do horizonte

Busquei o equilíbrio da vida

Olhando o mar

Em sua aparência infinita

Buscando te encontrar

Vindo de qualquer lugar para me salvar

Vislumbrei

A possibilidade de ser feliz comigo

Em uma infinitude de “eus”

Que vem e vão

Como a bruma do mar…

(Michelle Carvalho)

 

Acordei sem alegria para começar o dia que me fez recordar de ti, impulsionei meu dia nas boas lembranças do que vivemos…

Não me personifico nem consigo me distinguir… não há mais palavras para me designar… duplicidade, ambiguidade, dor, desespero… penso na raiva que sinto por tudo o que estou vivendo, sei que tudo o que fizeste comigo, que continuas a fazer não vai passar, não para, não acaba e nada vai apagar…

Tento teimar, sofro porque o quero perto, mas ao mesmo tempo sinto que esta mágoa não vai sair de mim nunca… penso que se eu passar por cima de tudo estarei fora de mim…

O sol, o calor, o suor misturando-se a minhas lágrimas a cada vez que lembrava estar sozinha, perdida, atônita quanto à realidade… olhando fixamente para o mar com suas incansáveis ondas que vem e vão, ainda espero as respostas que não consigo vislumbrar… Apenas vem a minha mente tua presença imaginária, teu sorriso hipnótico e desnorteador, teus olhos alegres quando viam o mar, tuas mãos com o toque que eu jamais havia sentido…

As respostas não vem, tu não vens, minha vida é esta, solitária, sem tino, sem caminho, vazia e muitas vezes herege, descrente de tudo.

Totalmente perdida não sei mais quem sou, sem teu alicerce sigo a tatear o futuro em plena escuridão e sem crença de que um dia ficará tudo bem.

O mais difícil nesta caminhada é saber que não sou aquela que um dia vai estar contigo, viver uma vida inteira, um amor de verdade…

Não acredito mais na vida, no amor, nas possibilidades de felicidade… acho tudo tão vazio, pessoas ocas, sem conteúdo e que em nada me despertam. Diante deste circo, o que me ronda é a tua lembrança, teu ilusório amor no qual eu tinha a fiel confiança de que existia e me desperta rancor por saber que é essa vida oca, essas pessoas sem conteúdo que tomaram meu lugar em tua vida… tudo isso é melhor que estar comigo…

Louca confusão na minha mente, meu coração está pedindo amor e não acredito mais nele… Meu coração está destroçado, estraçalhado, mas ainda tenta perdoar…  Minha mente pulsa de rancor,  repulsa e crê piamente que amor, paixão, união de almas, a pessoa certa, uma vida feliz compartilhada com outrem é algo tão imaginário, fantasioso, surreal e que só acontece em filmes românticos, com os quais choro como criança…

Às vezes, quando penso em como tu eras, tudo o que eu sonhava, pergunto-me se tudo aquilo realmente existiu, se foi real, ou se eu apenas imaginei… nada disso existe!! Até rio disso tudo! Como pude ser tão tola e romântica? O mundo é mau, corrompe, transforma! Ou somente toca e desperta o lado ruim, apático, vazio, sem valores e sem amor das pessoas? Não quero ser corrompida pelo mundo, mas tu foste… ou somente foste tocado e despertado? 

Inimaginável a ti minha dor, minha angústia por saber dos meus erros, necessitar de teu perdão, e tu me viras o rosto, dá-me as costas. Enquanto eu busco incessantemente fazer o contrário quanto a teus atos, teus erros… Suplicante por teu perdão , vejo que também não sei perdoar, corroo-me na tentativa mas é um tanto quanto difícil crer que tocastes outras e impulsionar-me a perdoar-te. Perdão é divino, é minha meta… talvez minha maior e mais difícil meta. Precisávamos de mutualismo em nossa estória, com muito custo e prova de amor (que penso não mais existir) perdoarmo-nos e vivermos o que temos pela frente.

Sozinha é tudo tão vago, não tenho expectativas nem ânimo para nada… Possuo uma falsa realidade de liberdade, uma pseudoliberdade, contudo uma psico prisão à minha vida atrelada a ti. De quê me adianta a dita “liberdade” se tudo o que faço gostaria de ter-te junto? Sair, badalar, beijar, abraçar, curtir, conhecer lugares novos, reavivar emoções em lugares conhecidos, ver o mar… Como agora que te necessitava aqui, diante destas ondas que trazem tuas lembranças e te levam de mim, levam tudo que foi vivido de bom e de ruim… deixando-me ainda mais só. Pensei em desistir de tudo, abandonar a vida e seguir além dela como única forma de destruir esse amor doentio, a solidão, a revolta e o desprezo, mas agora enxergo que abandonando a vida perderia meu mais precioso dom e não te causaria nada… tu não te importas com o que vivo, o que sinto, vives uma vida corrompida, feliz por estar assim, sem consciência, sem dor e visivelmente melhor que a minha.

Constantemente sonho contigo magoando-me, desprezando-me, tratando-me com ojeriza e impregnado de ódio enquanto humilho-me… este é o maior sinal de que tudo isso ocorre não só na vida real, esses sentimentos vão além, transcendem…

Pensei muito, não desejava ter de fazer isso, já tentei tantas coisas, fiz de tudo, lutei, esbravejei, humilhei-me, implorei, chorei, mandei flores, presentes, fiquei inerte, tentei não cometer mais nenhum erro, tentei chamar a atenção com minha presença e com minha ausência… e tu, inerte, mostrou-me que todo o esforço, todas as tentativas foram em vão… nada mais me resta a não ser esquecer, apagar, deletar… Como posso excluir uma pessoa da minha vida? Não sei ainda, tenho de conseguir desta vez… CHEGA!

Quero seguir em frente mesmo sem amor, sem vontade de viver o mundo lá fora… traçarei a meta, meu foco do esquecimento… esquecerei cada lágrima e cada sorriso, cada toque e cada dor, cada olhar e cada visão maléfica, desvencilharei minh`alma da tua pois a tua já vaga distante da minha há tempos obcecada por liberdade, enquanto a minha não a deixava em paz.

Chego enfim ao final desta fase, creio que este seja mesmo o fim. Esmoreço na luta de ter-te de volta e busco por um ponto final em minha guerra interna, em minha competitividade e em minha embriaguez louca por querer ter a tua presença.

Quero extrair de meu sumo corporal e mental todo sentimento de culpa, raiva, autopunição, rejeição e reescrever minhas memórias. Destruir arquivos inconscientes. Destruir minha consciência que o ama, meu inconsciente que o venera, esfacelar minha identidade que me denigre a alma por tanto amar-te e, em um jogo dúbio rejeita-te também.

Eliminar as misérias traumáticas que me causaste com uma borracha que também apagasse os momentos bons, exaurisse até a última gota do que vivemos fazendo-o um completo estranho em um suicídio da consciência, morte da subjetividade que me roubaste.

Espero reescrever minha história fora dos focos de tensão, em um futuro ambiente tranquilo, quem sabe diante de alguém, alguém que se orgulhe de mim, que queira ficar perto, passear de mãos dadas, vislumbrar o que meus olhos vêem, alguém que mantenha vivo o diálogo, a compreensão e o amor acima de qualquer coisa.   

Que o mar leve-te totalmente de mim e não te traga de volta… que eu consiga enfim encontrar a tranquilidade pois que a possibilidade de amar não vislumbro agora, assim como o romantismo que em meu viver encontra-se totalmente desacreditado.

(Texto de Michelle Carvalho – ano 2007)

e-mail: michellecarvalhoadvogada@yahoo.com.br

Instagram: @michelle_carvalho_escritora

Facebook: Michelle Carvalho Escritora

Youtube: Michelle Carvalho Escritora

 

Fonte:

Imagem destacada: https://pixabay.com/pt/photos/praia-p%c3%b4r-do-sol-ondas-oceano-mar-2179624/

 

 

Mostrar mais

Michelle Carvalho

Biografia: Advogada, Escritora desde os 13 anos, com participação em inúmeras antologias literárias e premiações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ganhadora do Premio Baixada de Literatura em 2014. Lançou 4 livros: “Furor Letárgico da Alma” (2009), “Versos de Princesa Prometida” (2015 – na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro) e “Cindy Entre Patas e Reinos” (2018) e Cindy Entre Patas e Reinos 2 (2019 – 19ª Bienal Internacional do do Livro do Rio de Janeiro) , estes dois últimos projetos de leitura na Cidade das Artes/RJ, em várias escolas nacionais e internacionais. Além de diversas participações em projetos culturais literários em escolas com palestras motivacionais, intervenções literárias e poéticas em saraus, sendo o último deles o Programão Carioca da Rede Globo no ano de 2018, Participação na FLIM e FLISGO no ano de 2019, bem como posse na ACLAM – Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo