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8ª edição – Crônica: “Apesar da distância” – Ezequiel Alcântara

Apesar da distância

Ezequiel Alcântara

 

Hoje eu saio na noite vazia

Numa boemia sem razão de ser

Na rotina dos bares

Que apesar dos pesares

Me trazem você

Onde anda você, Vinícius de Moraes

Minha querida e amada Angelus Nigrum, estou escrevendo para você, pois senti muitas saudades suas. Dias atrás, andei lendo alguns livros de poesia, muito bons, por sinal. Sei que não sou o melhor leitor que há no mundo, mas tentei (e continuo tentando) fazer da leitura uma rotina prazerosa. Ó minha Anjinha, deparei-me com um livro e lembrei de você na hora – era do mesmo tipo do que lhe dei de presente, daquele poeta, você lembra?! Pois bem, foi uma leitura apaixonante! Era como se você estivesse ali comigo compartilhando sentimentos.

Bem, minha Musa, talvez você possa achar que eu esteja exagerando nas coisas que falo, e que tudo não passa de um mero clichê qualquer, tão típico de conquistadores baratos. Mas saiba que não sou dessa laia nem quero ser visto dessa forma. Não quero agir dessa maneira nem gosto de atitudes assim. Saiba que prezo sempre por ser fiel àquilo que expresso e sinto verdadeiramente. Talvez você já tenha percebido isso no último poema que dediquei a você, meu bem.

Olha, devo confessar umas coisas para você: eu ando vivendo por aqui sem muito fulgor, desanimado para algumas coisas. Até andei desistindo de escrever uns sonetos… uma pena! Pois sei que você ama ler os que escrevo. Sabe, é que não ando muito inspirado ultimamente. Tenho até boas ideias, planejo tudo, do título ao final, mas meus sentimentos não andam querendo desmaiar sobre os meus escritos. Certas vezes olhei para o céu, senti a brisa fresca da tarde, tomei meu delicioso café, e o meu peito, apertado, chorou. Mas nada saiu para o papel, apenas algumas lágrimas minhas. Fiquei muito frustrado depois disso e fui, novamente, guardar meu caderno.

Passei uns momentos complicados aqui. Andei sendo humilhado e acusado de não ter nenhum valor ou perspectiva de vida. E o pior das minhas amarguras foi chegar à conclusão de que dói muito (e como dói) amar e não ser amado, não receber a mesma troca de sentimentos. Foi terrível! Só meu coração sabe o que senti. Cheguei a andar pelas ruas sem rumo, apenas para distrair a mente. E por onde andei, tentei aparentar que tudo estava bem. Peço que você não se preocupe com isso, pois já passou, e estou aprendendo a lidar aos poucos com essas coisas do amor que se desfaz. Mas quero que você saiba: nos momentos ruins, quem me salvou foi você. Sempre que me aconteceu algo desagradável nesses dias, pensar em você me acalmou, trouxe carinho ao meu ser. Relembrei – e continuo sempre a relembrar! – dos seus lindos olhos, o seu jeitinho carinhoso e a forma empolgada que você tem de contar sobre o seu dia. E não podia deixar de citar o seu sorriso. Tão belo como uma lua pálida minguando pelo horizonte anoitecido!

Pois é, apesar da nossa distância (que é tão grande…), sinto você aqui perto de mim, me animando a cada lembrança, me fazendo sorrir de novo. Não canso de lembrar daquela nossa despedida. É como se eu estivesse envolvido carinhosamente, mais uma vez, nos seus braços. Me sentindo aconchegado e amado, querendo mais e mais do seu calor. Sua voz doce, no meio daqueles beijos inesquecíveis, suave-ardentes, permeia o meu ser. E a sua feição na nossa despedida, entre os “tchaus” demorados, floresceram em mim esperanças de um possível reencontro entre o Servo e sua Deusa.

Bem, preciso ir dormir, a madrugada está quase acabando, e já vejo, pela minha janela, um pouco dos primeiros raios de sol. Estarei aqui esperando notícias suas. Espero que você esteja bem, minha amada Angelus. Sinto saudades de você.

Receba os beijos, com todo amor e carinho, do seu estranho poeta,

 

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Renato Cardoso

Renato Cardoso é casado com Daniele Dantas Cardoso. Pai de duas lindas meninas, Helena Dantas Cardoso e Ana Dantas Cardoso. Começou a escrever em 2004, quando mostrou seus textos no antigo Orkut. Em 2008, lançou o primeiro volume de “Devaneios d’um Poeta” e em 2022, o volume II com o subtítulo "O Rosto do Poeta". Graduado em Letras pela UERJ FFP e graduando em História pela Uninter. Atua como professor desde 2006 na rede privada. Leciona Língua Inglesa, Literatura, Produção Textual e História em diversas escolas particulares e em diversos segmentos no município de São Gonçalo. Coordenou, de 2009 a 2019, o projeto cultural Diário da Poesia, no qual também foi idealizador. Editorou o Jornal Diário da Poesia de 2015 a 2019 e o Portal Diário da Poesia em 2019. É autor e editor de diversos livros de poesias e crônicas, tendo participado de diversas antologias. Apresenta saraus itinerantes em escolas das redes pública e privada, assim como em universidades e centros culturais. Produziu e apresentou o programa “Arte, Cultura & Outras Coisas” na Rádio Aliança 98,7FM entre 2018 e 2020. Hoje editora a Revista Entre Poetas & Poesias e o Suplemento Araçá.

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Um Comentário

  1. Angelis, anjo de luz ! A mulher vista da mais bela forma : angelical, bela, dócil! O respeito merecido do poeta apaixonado. Lindo, contagiante!

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