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6ª edição – Cordel: “O TEMPO: AUTORIDADE MÁXIMA DA EXISTÊNCIA” – por Zé Salvador

O TEMPO: AUTORIDADE MÁXIMA DA EXISTÊNCIA
por Zé Salvador

Não sei como dirigir-me
aos deuses Kairós e Cronos.
No reinado que vivemos,
nós somos simples colonos;
os dois que são um só deus,
nos tratam qual somos “seus”,
para defender seus tronos.

O homem pegou o tempo
e o trancou em ampulhetas,
fracionou em pedacinhos,
no giro de duas palhetas
convencendo-se com isso
que firmava um compromisso,
o marcando em tabuletas.

O senso comum de tempo,
ao ser humano inerente,
a princípio, todos temos
um sentido coerente,
capaz de reconhecer,
e ele percebido ser
psicológico, puramente.

“Corre o tempo!” É o que se fala.
É, porém, pouco provável,
nosso cérebro criativo
nos ilude ao razoável;
com a evolução de fato
fica tudo imediato,
mas o tempo é implacável.

A nossa massa cinzenta,
nalgum momento impreciso,
acha que o tempo correu
lhe deixando em prejuízo,
o tempo metódico escorre…
Quer saber quem é que corre?
É mesmo o nosso juízo!

Dependendo do que seja,
qual nossa necessidade,
a percepção do tempo,
a que temos de verdade,
é ligeira e imprecisa,
ou é morosa indecisa,
nos causando ansiedade.

Sendo uma grandeza física,
presente, o cotidiano,
o tempo em todas as áreas
forra tudo como um pano;
na hora certa descobre,
nem educado, mas nobre,
tudo dentro do seu plano.

Tempo: é qualquer período
medido, desde um abalo,
tendo grande duração
ou um pequeno intervalo.
É o acender do corisco
que traz seu estrondo arisco,
já sem perigo, o estalo.

Vê-se que o tempo, em ciência,
é algo bem relativo,
definição absoluta,
não detém, mas curativo,
tem válido seu paradigma,
quase beirando o estigma,
quando o vemos punitivo.

O tempo físico medido,
de Cronos também chamado,
é aquele que fácil vemos
por gráficos representado,
e uma metálica palheta
marca, ou então a ampulheta,
o torna pó derramado.

Junte sessenta segundos,
faça deles um minuto;
veja a grandiosidade
procure ser mais arguto,
assista com sutileza
a habilidade e a beleza
do tempo, que é muito astuto.

Ele chega e ninguém nota,
prepara todo o terreno,
com amor, mas disfarçado,
queima no fogo pequeno;
vai lambendo, vai lambendo,
ninguém sente nem tá vendo,
o animal comer o feno.

Se delicia de tudo,
tudo tá de bom tamanho;
o seu jeito de arrumar
parece até desmaranho,
com suas reviravoltas
tem controle sem escoltas,
inda que pareça estranho.

Na medida o tempo é rápido,
num instante, outro formato,
rapidamente acontece,
em tudo o tempo é a jato,
transforma, faz do seu jeito,
só vemos depois de feito
com traços de anonimato.

A substituição das coisas
acontece a toda brida,
a peça que se estraga
vem ser substituída,
o antigo se desvanece
ali, se o novo aparece,
é lei natural da vida.

O tempo sabe de tudo,
mas não conta pra ninguém;
faz tudo à maneira dele,
não importa se convém
e faz na frente de todos;
o que faz não são engodos,
faz paulatinamente bem!

Nessa ideia cronológica,
o tempo nos faz nascer:
Um momento é a nossa infância,
outro momento, é crescer;
daí a pouco um adulto,
depois velhos com indulto
só esperando morrer.

Todo dia morre um dia
pra um outro dia nascer,
no meio, a noite limita
pra fazer acontecer
essa mudança divina,
que é feita na oficina
do artesão, o “alvorecer”.

Na régua da medição
nosso tempo anda ligeiro,
Kairós medido oportuno,
enquanto Cronos faceiro,
brinca irresponsavelmente,
esse tempo engana a gente
com seu esquadro caseiro.

Nos fazendo acreditar
que temos banco de horas,
para, quando necessário,
usar com nossas demoras,
nós que somos seres crédulos
e nem um pouquinho sédulos,
vemos que só têm “agoras!”

Sem botão de retrocesso,
só tem botão de avançar,
dar-se um passo, dois e três
depois não pode voltar;
implacável nunca cede,
o homem é que diz que mede,
mas não faz Cronos parar.

Juvenil e sem critério
ao deus-dará, esse vai
não se importando com nada,
sem saber o dia que sai;
com atitude desmedida
segue levando a vida,
até que a vida se esvai.

O “outro” chama e avisa:
– O ciclo se fez completo,
tem vez agora a mudança;
na medição é decreto.
Se entregue de corpo e alma,
trabalhe a oportuna calma,
seja então bom arquiteto.

Dois tempos que são um só.
Mas vejo o Cronos primeiro,
este que é determinado,
é medido e aventureiro;
e Kairós, tempo oportuno,
dito o tempo de Deus Uno,
este é o tempo verdadeiro.

São fronteiros os dois tempos,
passa o bastão de repente
pro futuro, num instante,
são limítrofes na frente;
logo o presente é passado
e o futuro do seu lado,
agora virou presente.

Um já velho, outro menino,
cada um com seu catálogo,
passado o bastão bem rápido,
entre os dois não há diálogo;
cada qual segue seu rumo.
O existencialismo é aprumo
com o seu feitio análogo.

Na matéria, nós os homens
seguimos a mesma trilha.
Olhemos no fim do túnel,
vejamos a luz que brilha,
essa luz do redentor
nos conduzindo ao amor,
enchamos nossa vasilha!

Donde parte não importa,
importa a nossa atitude,
se o porto é o coração.
Com as asas da virtude,
a mudança nos apraz
e o próximo porto é de paz,
nesse voo em plenitude.

Nessa ideia cronológica
o tempo nos faz nascer:
Um momento é a nossa infância
outro momento é crescer;
daí a pouco um adulto,
depois velhos com indulto
só esperando morrer.

E mesmo assim o tempo anda,
jamais aceita lamentos,
ele desliza das mãos,
não importam argumentos,
feito embuá se contorce
inda que não nos esforce…
ele tem outros inventos.

Derramado em ampulhetas
tem mudanças, muda os planos,
outros tempos são chegados,
os fatos são soberanos
pra nós então peço paz,
que seja o homem capaz
de amar seres humanos.

Zéfiros são suaves ventos,
É comum senti-los frescos,
São estes os pitorescos
Afagos de tempos lentos.
Livres, porém são atentos,
Vão refrescando quenturas,
Atenuam temperaturas,
Deslizando em boas brisas.
O tempo traz as camisas
Revestidas de ternuras.

Ficha técnica

Autor: Zé Salvador
Revisão: Erick Bernardes
Título: O TEMPO: AUTORIDADE
MÁXIMA DA EXISTÊNCIA
Gênero: FILOSOFICO DICERTATIVO
Estilo de estrofes: septilhas (heptassílabos)
Número de estrofes: 31 mais
um acróstico em décima (heptassílabos)
Distribuição de rimas: xaxabba
Capa: Ampulheta produção pixabay
Edição: Zé Salvador
Impressão: Editora P&P

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Renato Cardoso

Renato Cardoso é casado com Daniele Dantas Cardoso. Pai de duas lindas meninas, Helena Dantas Cardoso e Ana Dantas Cardoso. Começou a escrever em 2004, quando mostrou seus textos no antigo Orkut. Em 2008, lançou o primeiro volume de “Devaneios d’um Poeta” e em 2022, o volume II com o subtítulo "O Rosto do Poeta". Graduado em Letras pela UERJ FFP e graduando em História pela Uninter. Atua como professor desde 2006 na rede privada. Leciona Língua Inglesa, Literatura, Produção Textual e História em diversas escolas particulares e em diversos segmentos no município de São Gonçalo. Coordenou, de 2009 a 2019, o projeto cultural Diário da Poesia, no qual também foi idealizador. Editorou o Jornal Diário da Poesia de 2015 a 2019 e o Portal Diário da Poesia em 2019. É autor e editor de diversos livros de poesias e crônicas, tendo participado de diversas antologias. Apresenta saraus itinerantes em escolas das redes pública e privada, assim como em universidades e centros culturais. Produziu e apresentou o programa “Arte, Cultura & Outras Coisas” na Rádio Aliança 98,7FM entre 2018 e 2020. Hoje editora a Revista Entre Poetas & Poesias e o Suplemento Araçá.

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Um Comentário

  1. O tempo e um dos temas mais férteis e .ais cruéis. O autor, porém, soube dominá-lo com mestria.
    Uma grande reflexão acerca dessa verdadeira matéria dinâmica e inconstante.

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