Marcos Pereira

UM OLHAR SOCIAL. A ÚLTIMA CHANCE DE UM MUNDO MELHOR.

Pelas minhas andanças na vida, encontrei um personagem que aqui vou chamar de Sr. João, e vou tentar falar de como o nosso preconceito descaracteriza muitas das vezes pessoas de classe menos privilegiadas.

O nosso diálogo começou por um acaso. Ele, um vendedor que vende balas nas ruas para sobrevive, pois foi o único meio que encontrou após ter sido expulso de sua casa pelos milicianos e traficantes do seu bairro. Falou com entusiasmo que já teve um lar (comprado após muitos anos de trabalho), mas que um belo dia, os bandidos bateram na sua porta e disseram que ele tinha vinte quatro horas para desocupar a casa, pois a sua residência, localizava-se em um lugar estratégico para o comando e caso isso não acontecesse, eles voltariam no dia seguinte para expulsa-lo ou mata-lo, caso resistisse.

Com medo da situação, saiu desesperadamente para arrumar um local onde colocar o pouco que tinha. Neste instante, reparei que seus olhos encheram d’água, pois como ele mesmo falava, “A lembrança do meu cantinho, é um mix de felicidades e tristezas”.

Assim, ele passou a viver de abrigo em abrigo, apenas para pernoitar, pois durante o dia, tem que sair para trabalhar. Descreve os abrigos como a última das moradas, pois muitos são lugares inóspitos.

Eu então lhe perguntei: o senhor não tem família? E ele me respondeu que nunca teve a sua própria família, pois sempre viveu sozinho e o pouco de parentes que tinha, morreram de Covid, não tendo ninguém a quem recorrer.

Entre um assunto e outro, teve várias recordações e uma delas, foi de quando ele tinha trabalhado de carteira assinada. Neste instante, esbouçou um leve sorriso, que transformou sua fisionomia de sofrimento. Lembrou com satisfação de quando passava no mercado e fazia compras, mas hoje, ele depende das quentinhas doadas pelas instituições. As quais, nem sempre consegue, pois a quantidade distribuída é insuficiente para o tamanho da fila que se forma. Quando isso acontece, ele fica o dia inteiro sem se alimentar, fazendo apenas lanches conforme a suas vendas.

Quando falei sobre aposentaria, ele me disse que não tem o tempo que a lei pede, pois trabalhou muitos anos na roça e quando perdeu seus pais, veio para a cidade.

Estudou até o segundo grau e fez vários cursos para se atualizar, mas por causa de sua idade, ele não consegue nenhuma oportunidade.  Fala com entusiasmo sobre política social, e por incrível que pareça, Sr. João um simples cidadão e morador de rua tem mais visão de política pública do que nossos próprios políticos. Sua verbalização e suas ideias de melhoria para a população comprovam isso.

A todo momento, ele exalta o querer crescer e deixar para trás está vida, repetindo muitas vezes “É muito humilhante você ser julgado pela sua aparência e pela condição de morador de rua”.

Apesar de sua idade avançada, é difícil dizer quantos nos anos ele tem, pois não é fácil manter uma imagem mais jovial levando a vida que ele vive. Na realidade, ele tenta se manter em pé com o pouco de dignidade que lhe resta.

Infelizmente, esse mundo de miséria não é perceptível aos nossos olhos, pois essas pessoas vagam moribundas pelos dias e pelas noites no aguardo de uma oportunidade que nunca lhe será oferecida.

Infelizmente, os nossos governantes tem outras pretensões, mesmo tendo ciência que esses fantasmas andantes fazem parte do povo que eles governam.

Ao meu ver, não podemos jogar toda a culpa na pandemia que atravessamos, pois pobres e miseráveis, sempre fizeram parte do nosso cotidiano. Porém, a evidencia é que a pandemia trouxe à tona anos e anos de ausência de projetos sociais e uma melhor distribuição de renda para uma categoria de ser humano julgado como a escória da sociedade.

Marcos Pereira

 

 

 

 

 

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