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5ª edição – Crônica: “Qual é a diversidade que cabe no seu ‘respeito’?”

Qual é a diversidade que cabe no seu “respeito”?

Atualmente é comum o uso da expressão “respeito à diversidade”. Qual é a diversidade que você respeita? A discussão, em âmbito social, acabou ficando restrita às pessoas com deficiência, negros x brancos e orientação sexual, causando um empobrecimento nos debates sobre um assunto muito mais complexo e que gera sérias consequências que afetam indivíduos e formam uma sociedade adoecida.

Como você reage quando o aluno apresenta características distintas do seu gênero de nascimento? Qual a sua atitude diante de uma menina que diz querer crescer, casar, cuidar da casa e do marido? Ou do menino que diz que o homem deve sair para trabalhar e ser o provedor do lar? E se a menina diz que não quer nada da situação anteriormente citada? E se o menino diz que quer crescer e cuidar da casa? Diante do que temos observado na prática dos professores, teríamos duas reações: os profissionais mais conservadores abominariam a menina que “não quer casar” e o menino “que quer cuidar da casa”, assim como tratariam como “doente” o aluno descrito na primeira situação. Em contrapartida, os educadores mais liberais olhariam para a menina que “quer casar” e para o menino que “quer prover o lar” como “pobres coitados manipulados por suas famílias machistas”. E quando realmente ouviriam e respeitariam as opiniões dos seus alunos? Quem tem a régua certa para medir o outro? Afirmo: nenhum de nós. Pensamentos extremos não constroem sociedades justas. Ainda que o seu extremismo seja pelo bem do coletivo, se você não respeita as opiniões individuais, você é um opressor.

Para debater sobre diferenças, é necessário ir além dos textos maravilhosos sobre empatia, é preciso reflexão sobre a conduta humana. Estamos sempre com o dedo apontado para o outro, com verdades prontas, absolutas, baseadas em nossas experiências individuais. Se escolhemos trabalhar com seres humanos, deve ser exercício diário e obrigatório a autorreflexão das nossas atitudes; não é fácil, mas optamos por esse ramo profissional.

Não podemos encaixar o sujeito ou um coletivo de sujeitos em uma única linha cultural, pois cada indivíduo tem contato com várias culturas; assim, absorve-as, transforma-as, vive e sente essas culturas, reproduz várias delas de maneira singular. Ainda assim, reduzir o ser humano, com toda a sua complexidade, a um pacote de características culturais, é matar toda a beleza que há em sermos únicos por essência.

O debate sobre religiões nas escolas raramente leva em consideração os indivíduos que não têm religião, os agnósticos. Ficamos presos às lembrancinhas (devemos ou não fazê-las?), às discussões sobre comemorar ou não efemérides, dançar ou ouvir determinadas músicas. Quando é que refletiremos como o aluno ou o colega de trabalho que não pertence às linhas religiosas predominantes se sente? Quando é que o currículo sairá do caminhar em círculos e ampliará o seu olhar? Esta não é tarefa fácil, mas é necessária, e sim, obrigação de educadores.

Poderíamos escrever um livro sobre as DIFERENTES e DIVERSAS situações que permeiam o cotidiano escolar, muitas vezes ignoradas ou minimizadas, transformadas em naturais, com as frases “é assim mesmo”, “não estudei para isso”, “não é minha função”, “não me sinto preparada”. Cuidado! Um sujeito adoecido gera uma sociedade adoecida e você terá que conviver nesta sociedade, você é parte dela! Não ignore o grito de socorro nos relatos dos alunos nas rodinhas ou nas brincadeiras, em suas atitudes violentas ou apáticas, em suas lágrimas. Não finja não perceber que um colega necessita ser advertido, só porque ele é “seu amigo”; não ignore uma família que desconheça seus direitos, ensine-a a “cobrar do governo”, arme-a da maneira certa para que lute contra a desigualdade social que a fere. Respeite o sujeito SINGULAR que está diante de você, pois ele não é melhor nem pior só porque pensa de outra maneira, vocês apenas são DIFERENTES e, portanto, assimilam a CULTURA de forma DIFERENTE.

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Sobre a autora:

Erica da Costa Barros
Contato: ericacbarros2010@hotmail.com

Graduada em Letras (Português/ Literaturas)
Especialista em Orientação Educacional e Pedagógica
Habilitada em Atendimento Educacional Especializado
Mestranda em Diversidade e Inclusão
Professora da Rede Municipal de Educação de Niterói
Youtuber no Canal Papo Especial

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Renato Cardoso

Renato Cardoso é casado com Daniele Dantas Cardoso. Pai de duas lindas meninas, Helena Dantas Cardoso e Ana Dantas Cardoso. Começou a escrever em 2004, quando mostrou seus textos no antigo Orkut. Em 2008, lançou o primeiro volume de “Devaneios d’um Poeta” e em 2022, o volume II com o subtítulo "O Rosto do Poeta". Graduado em Letras pela UERJ FFP e graduando em História pela Uninter. Atua como professor desde 2006 na rede privada. Leciona Língua Inglesa, Literatura, Produção Textual e História em diversas escolas particulares e em diversos segmentos no município de São Gonçalo. Coordenou, de 2009 a 2019, o projeto cultural Diário da Poesia, no qual também foi idealizador. Editorou o Jornal Diário da Poesia de 2015 a 2019 e o Portal Diário da Poesia em 2019. É autor e editor de diversos livros de poesias e crônicas, tendo participado de diversas antologias. Apresenta saraus itinerantes em escolas das redes pública e privada, assim como em universidades e centros culturais. Produziu e apresentou o programa “Arte, Cultura & Outras Coisas” na Rádio Aliança 98,7FM entre 2018 e 2020. Hoje editora a Revista Entre Poetas & Poesias e o Suplemento Araçá.

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