Marcos Pereira

A PANDEMIA PSICOLÓGICA DE CADA DIA. .

Após meses trancafiado no espaço domiciliar, começo a me perguntar: Quem sou eu?

Olho-me no espelho e me percebo mais desesperado do que reflexivo. Já li vários livros, já assistir várias life’s, já vi vários filmes, mas nada nesta altura do campeonato, me diz mais nada. O meu poder de concentração está passando longe da lógica racional.

Acordo todos os dias com a sensação de não ter saído do mesmo lugar, é como se eu estivesse preso no tempo. Olho ao meu redor e fico pensando como posso apaziguar a angustia da minha reclusão. Parece que a segunda-feira nunca passa. Refiro-me a segunda-feira, pois é um dia que a grande maioria fica de luto pelo término do final de semana. Ah! Final de semana, que saudade da sensação de liberdade e das reuniões que nos abastece de energia. Abro o meu álbum mental e começo a desfolhar suas páginas com imagens do churrasco em família, da conversa no bar, do banho de mar, da ida ao shopping e tantas outras coisas que anteriormente me geravam tanto prazer. Após tantas recordações, me vejo triste e frágil. A minha imaginação voa tão longe, que posso sentir o que é ser um presidiário, cativo dentro de si mesmo, com medo de tudo e de todos.

Estar trancafiado pelo Covid-19 é a certeza de não fazer parte de uma infeliz curva da morte que a mídia tanto notifica, podendo chegar a 90.000 mortes. Um número bem expressivo, apesar do governo dizer que era apenas uma gripezinha.

Essa ausência de expectativas, me chegam aos meus olhos como se fossem as cataratas de Foz do Iguaçu. Fico a pensar: como que de um dia para outro perdemos a essência de nós mesmos? A sensação de sermos apenas uma sombra fica evidente. É triste, mas passo a temer o flagelo das feridas profundas deixadas no corpo e na alma, mostrando a todo momento a vulnerabilidade que estamos expostos.

Estaríamos nós as margens de uma pandemia da loucura? Ou quem sabe, do suicídio coletivo?

Morrer, é uma evidência, mas hoje, como elucidação de um alívio, só nos resta pensar na sobrevivência da nossa própria mente, pois ainda estamos a lutar pela esperança de um novo dia.  

Marcos Pereira

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