Resultados Humanos

Os Resultados do amor pela arte de ler e escrever

Por Altamir Lopes

 

Eu nem me atrevo a começar essa matéria perguntando retoricamente ao estimado leitor se gosta de passar o seu tempo fazendo leituras. As respostas variarão, desde um retumbante NÃO a um empolgado SIM. E, queres saber? Ainda existem os que dizem: “Mais ou menos, vai depender do que tiver para ler” (Inclusive eu acredito que estes compõem a maioria).

Independentemente da sua empolgação pela leitura ou sua ausência de apetite pelas letras, tenho certeza que, após ler a entrevista que fiz com o Mestre Erick Bernardes (46), sua visão sobre a importância de ler ficará muito mais apurada! Gonçalense “da gema”, o professor, escritor e entusiasta das histórias do seu município de nascimento e de residência encontrou desde cedo – na tenra infância – o gosto pelo mundo das palavras registradas no papel. Erick levou tão a sério a brincadeira da prática da leitura que hoje é um dos autores consagrados do município dos papa-goiabas. Aliás, “Papa-goiabas” é parte do título dos seus incríveis livros que contam os causos dessa cidade cheia de personagens, digamos, folclóricos. A série de livros “Cambada: Crônicas dos papa-goiabas” possui uma leitura fácil, empolgante e cheia de curiosidades. O sucesso é tanto que até mesmo escolas do município usam as publicações nas práticas pedagógicas em sala de aula!

Os resultados que esse grande profissional – e ser humano humilde, inteligente e extremamente cortês – alcançou nessa trajetória não somente como ávido leitor, mas competente escritor, tem inspirado seus alunos, colegas de profissão e, até mesmo, a todos os “aspirantes a leitores” a experimentarem com mais intensidade o fantástico mundo dos livros.

Vamos à entrevista?

 

Entrevista com o Profº Erick Bernardes

 

Em 27 de setembro de 2019, eu tive a honra de estar presente no lançamento do primeiro do que seria uma série de cinco volumes da obra “Cambada – Crônicas de papa-goiabas”. Cada volume possui uma cor diferente, em referência às espécies de caranguejos encontrados no município de São Gonçalo – É a literatura com uma artística pitada das ciências biológicas.

 

Coluna Resultados Humanos: Erick, o que realmente faria uma pessoa ter o hábito de gostar de ler?

Erick Bernardes: Bem, tomo aqui meu prazer de ler como exemplo. Acho que, do mesmo modo que eu gosto de ler por diversão, muita gente se entretém com a leitura: ler por “curtição”, aprender coisas novas por meio de boas histórias, ser surpreendido por uma linguagem clara, sem floreios estilísticos. Creio que enveredar por esse caminho, ainda que subjacentemente, faz perene o hábito do leitor.

Coluna Resultados Humanos:
Você já teve (ou tem) a sensação de que a geração mais jovem não tem esse hábito? Ou acha que eles gostam de ler, de forma geral?

Erick Bernardes: Sou da opinião, quase convicção, de que os jovens têm, sim, o hábito de ler. Porém, o que os novos se interessam são leituras que oferecem poucas reflexões e textos menores, por causa da acessibilidade da internet. Ou seja, mensagens de WhatsApp, Instagram, dentre outros aplicativos, seduzem o mundo contemporâneo e sobra menos tempo para interpretações mais exigentes.

Coluna Resultados Humanos: Quando você descobriu que era um amante da leitura?

Erick Bernardes: Ah, isso foi desde criança. Eu me isolava dos outros em qualquer canto e mergulhava nos livros. Depois ficava me imaginando no tempo e espaço dos heróis das histórias. A subjetividade continha o fermento da produção narrativa.

Coluna Resultados Humanos: Você foi estimulado a fazer isso? Ou simplesmente não optava por brincadeiras ou, até mesmo, alguma tecnologia da época (videogames, videocassetes etc.) que o distraísse? Acredita que se sua infância passasse nos tempos atuais, você seria um amante da leitura como hoje se apresenta?

Erick Bernardes: É bom frisar que não sou contra a tecnologia. No meu caso específico, é que não sou atraído por ela. Mas a minha resposta é: sim, tive videogame, do tipo Atari, não jogava com frequência. Meu tempo livre era mais dedicado a brincadeiras de rua (garrafão, carniça, pique-esconde) e, durante as noites, eu gostava de ler. Embora eu tivesse a tecnologia da época à minha mão, eu preferia comprar um bom livro usado em algum sebo e me divertir assim. Se eu fosse criança hoje, talvez não brincasse tanto na rua. Contudo, o motivo não seria o excesso da tecnologia, mas a violência urbana.

Coluna Resultados Humanos: Como foi sua transição de Leitor para escritor?

Erick Bernardes: Na verdade essa transição não houve. Desde que comecei a ler que gosto de escrever tão logo fecho o livro. Uma coisa é parte da outra. Ainda faço isso, eu leio, reflito e, em seguida, escrevo. Qualquer coisa, mas escrevo, impossível não lançar criaturas inventadas, me embrenhar nas sendas da ficção depois de uma boa degustação literária.

Coluna Resultados Humanos: E você gosta mais de descrever fatos ou provocar reflexões nas suas obras? Qual o seu objetivo principal?

Erick Bernardes: Uma coisa não exclui a outra. É possível descrever fatos e provocar reflexões. Uma família de moradores de rua, por exemplo, dependendo do modo como é descrita, impacta e suscita a reflexão. Quem é boa em fazer isso é a escritora Cleia Nascimento, autora de São Gonçalo. Ela já escreveu de forma bastante descritiva sobre uma mulher catadora de rua, acerca de uma família de sem-teto, dentre outros temas do tipo. São assuntos que nos (co)movem, nos tiram da comodidade, afastam a gente da zona de conforto, tudo isso descritivamente.

 

“…Cada dia percebo resultados ou efeitos dessa minha paixão por escrever. Em pequena escala, posso afirmar que me tornei mais crítico da vida…”

Erick Bernardes

 

 

Coluna Resultados Humanos: Qual influência que a sociedade moderna, cada vez mais tecnológica, tem exercido sobre o hábito das pessoas em relação a leitura e até pelo prazer de ler?

Erick Bernardes: Isso eu percebo em meus leitores. Ninguém que eu conheça deixou de ler por causa do avanço tecnológico, se bobear lêem mais do que outrora, mas lêem majoritariamente fragmentos de obras literárias maiores e mais contundentes. A parte boa é que a modernidade democratizou a leitura; qualquer PDF de romance, por exemplo, pode ser encontrado com facilidade. No entanto, os consumidores de literatura se interessam cada vez mais por linguagem fácil, menos reflexiva, clichê e, sobremaneira, textos menores, porque têm menos tempo e atenção para leitura.

Coluna Resultados Humanos: Mas você não tem a sensação de que os leitores estão cada vez mais rasos, superficiais? Acredita que obras mais densas como Ilíada, Dom Casmurro, A República e afins, só encontram espaço se forem material para produção acadêmica, ou será que esse tipo de literatura pode cair no gosto do leitor jovem comum?

Erick Bernardes: Essa pergunta é bastante parecida com outra que você fez. A resposta também é similar. Quando nos referimos ao termo “raso”, decerto pensamos em leituras rápidas e menos substantivas. Dessas que já comentei que não exigem esforço reflexivo. Todavia, o seu contrário (leituras “aprofundadas”) precisa de leitores mais atentos e demorados, com fins de problematização sobre o texto que se lê. Mas é preciso também tomar cuidado com os excessos, afinal, entreter é um dos pilares da arte literária. Profundidade demais é o próprio buraco sem fundo.

Coluna Resultados Humanos: Agora a pergunta “de praxe” da nossa coluna: Quais foram os resultados na sua própria vida em função do seu amor pela leitura e pela escrita?

Erick Bernardes: Foram incomensuráveis, por assim dizer. Cada dia percebo resultados ou efeitos dessa minha paixão por escrever. Em pequena escala, posso afirmar que me tornei mais crítico da vida, porque sempre recebo o retorno, via comentários dos meus leitores. Posso refletir e melhorar minha escrita – assim como tento ser melhor na vida, ouvindo os outros e tentando lapidar meu caráter. A um nível maior, os resultados são que, sem modéstia, uma quantidade considerável de gonçalenses tem orgulho da cidade. Valorizam a própria história porque tomaram gosto pela memória do seu povo. E isso, novamente peço vênia à modéstia, teve o seu quinhão proporcionado pelos livros que escrevi, os Cambadas. (Fim da entrevista)

Ercik Bernardes e os livros da Série “Cambadas – Crônicas de papa-goiabas! Leitura fácil, informativa, envolvente e cheia de curiosidades sobre o município de São Gonçalo

E agora, refletindo…

 

Seja a bula de um medicamento ou uma revista em quadrinhos, um romance de trezentas páginas ou uma poesia exclusivamente dedicada ao leitor, a avidez pela informação, pelo entretenimento, pelo conhecimento e – por que não? – o prazer, podem ser facilmente alcançados pelo simples ato de ler. E é insofismável dizer que grandes resultados humanos na História, com seus grandes personagens e grandes conquistas, tiveram como “pano-de-fundo” a aquisição do conhecimento, o saber via questionamentos que criaram e as respostas que obtiveram por meio, principalmente, da leitura. Ler é uma das maiores dádivas que foi concedida ao ser humano. E os resultados dessa prática são, como disse o Professor Erick, incomensuráveis.

E aí, gostou da entrevista? Fique à vontade para compartilhar com outras pessoas esse conhecimento! E conheça nossas demais matérias, sempre com uma reflexão importante a respeito dos Resultados Humanos!

O prof.º Erick em ação como professor.
Erick Bernardes é doutorando em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Estudos Literários pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e tem Especialização em Estudos Literários (FFP UERJ) e Especializado em Neuropsicopedagogia Institucional e Clínica. É professor da Rede Municipal de Educação de São Gonçalo (Semed) e da Rede Adventista de Educação. Autor do livro Panapaná: contos sombrios, dos livros Cambada I, II, III, IV e V: crônicas de papa-goiabas, cordel Voz de prisão e do E-book Caterva: o intelectual Graciliano Ramos em Memórias do cárcere (publicado pela UERJ). Também colabora com as Revistas Entre Poetas e Poesias e Suplemento Araçá, além de ser cronista do Jornal Daki. acadêmico pesquisador e assessor de imprensa da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), acadêmico da AGLAC (Academia Gonçalense de Letras Artes e Ciências) e acadêmico pesquisador fundador da Academia Gonçalense de Literatura de Cordel (AGLC). Recentemente está em vias de publicar o livro MEADA: HISTÓRIA DA LITERATURA DE CORDEL e, no momento, dedica-se a escrever a biografia do poeta e amigo Zé Salvador. É casado com Viviane e pai de Isabela e Pierre. Gosta de ler Apólogos e literatura fantástica.

 

 

Crédito das imagens: Arquivo pessoal do entrevistado, gentilmente concedida à coluna.

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Altamir Lopes

- Graduado em Gestão de Negócios, MBA em Gestão de Recursos Humanos, Orientador Educacional e de Carreira, Licenciando em Pedagogia e Pós-graduando em Neuropsicopedagogia. - Desenhista, formado pelo SENAC RJ. - Terapeuta Integrativo, Formado em Reflexoterapia, Quiropraxia e outras técnicas holísticas. - Palestrante, Instrutor de cursos gerenciais e Técnicos. - Mas acima de tudo, um servo do Deus vivente Jeová, Pai, marido e ser humano reflexivo. Na coluna que leva o meu nome, vamos nos encontrar para refletir sobre a arte da gestão de pessoas e relacionamentos. Nos meus textos, pretendo levantar questões e reflexões sobre a sociedade humana e seus meandros paradoxais e especialmente, a relação que cada um tem consigo mesmo por meio de textos em verso, prosa, crônicas, contos etc. E também publicarei na coluna RH - Resultados Humanos, artigos que tratam dos Resultados da ação Humana na História. Entrevistas com pessoas que fizeram acontecer e reflexões profundas também farão parte dessa coluna. De vez em quando, em quaisquer dessas colunas, vou publicar uma charge ou caricatura autoral...Espero que gostem.

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2 Comentários

  1. Uma ótima abordagem.
    Um belo trabalho esse do professor Erick, seu material se tornou referência e estímulo para seus alunos, leitores e professores. Ao qual tem uma grande influência no mundo da ludoterapia, Terapia Ocupacional, arte terapia dentre outras. A capa criativa do seu livro tem um potencial gigantesco, e faz a imaginação da criançada viajar!
    Parabéns! Ao entrevistador e ao enttevistado, nos agregou mais ainda conhecimentos.

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