João Rodrigues

O poder da caneta

Escrevendo estava eu num certo dia
E com a caneta que eu tinha na mão
Numa folha em branco fiz um coração
Abaixo escrevi uma poesia
O que eu lhe mandava, depressa fazia
Pelas linhas retas ela deslizava
Rimava, compunha e metrificava
Construindo versos, rimando perfeito
Jogando pra fora a voz do meu peito
Cuspindo na folha tudo que eu pensava.

Pensei: “Jesus Cristo, que coisa importante!”
E vi o amante escrevendo à amada
A mesma caneta que fora usada
Fazia as palavras da amada ao amante
As primeiras letras que escreve o infante
Foi essa caneta quem as rabiscou
A mesma caneta que Isabel usou
Para pôr um fim na escravidão
Quando na Alemanha deu-se a rendição
Foi essa caneta também que assinou.

Com ela, o juiz assinou a sentença
Que levou à forca o triste condenado
Só porque quis ver o Brasil libertado
Mas que a Coroa considerou ofensa
Receita o remédio que cura a doença
Assina o aumento do parco salário
Rabisca o acordo do rico inventário
O mesmo que joga irmão contra irmão
A mesma que assina as leis da nação
Registra o nascer e o obituário.

Com ela, o acordo de paz é selado
Mas também assina a maldita guerra
Com ela a Espanha dividiu a terra
Com os portugueses no velho tratado
Do tal Tordesilhas por eles chamado
Com ela Cabral uma carta escreveu
Contando à Coroa o que sucedeu
E tantos e tantos causos importantes
Agora eu a vejo não mais como antes
Depois desta aula que ela me deu.

 

João Rodrigues

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João Rodrigues

Nascido em Riacho das Flores, Reriutaba-Ceará, João Rodrigues é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estácio de Sá – RJ, professor, revisor, cordelista, poeta e membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes e da Academia Virtual de Letras António Aleixo. Escreve cordéis sobre super-heróis para o Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (NuPeQ) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

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