Michelle Carvalho
Tendência

Não sei mais quem sou

Não sei mais quem sou

Tens me seguido por onde vou
Não importa onde eu esteja
Você está lá

Sei que não me persegues materialmente
Mas implantou-se em meu subconsciente
Deixou sua imagem gravada lá
Em meu pensamento…
Não importa o tempo em que não o vejo
Não importa a separação, a distância, o espaço…
Estás ligado a mim.

És inoportuno
Incontrolável
Involuntário
Estás misturado ao meu sangue
Confunde-se com minha pele
Seu perfume exala de meus poros
Em minha boca tenho teu gosto
Já não sei mais quem sou eu
Tu confundes meus pensamentos
Vive em meus sonhos
Não sei como me livrar de ti!

Saia de minha vida
Essa prisão a este amor não me leva a nada
Só me faz sofrer
E não saber mais o que sinto e o que sou.

(Livro: Furor Letárgico da Alma – Michelle Carvalho)

Quem de nós já não se sentiu perdido, sem saber quem é realmente, se somos o que desejamos ou nos tornamos algo para agradar alguém?

Já iniciamos com um grande questionamento e prosseguimos pensando… quem nós somos de verdade? O que realmente significamos?

Nos vemos tão super-heróis, tendo de dar conta de tudo em um turbilhão de tarefas e afazeres que nunca terminam e sempre achando que podemos muito mais, nos estafando, adoecendo sem sentirmos, até que a “maquina” começa a dar sinais até parar de vez.

Mas basta uma queda, um corte no dedo, uma rinite para sabermos da nossa fragilidade humana… não somos de aço, somos de carne e osso!

Em meio a tanta briga, disputa de poder, corrupção, vemos a vida fragilizada sem poder correr para nenhum lugar… todos sendo iguais, perfeitamente iguais… fragilizados e impotentes.

Pensávamos que, pela lei da vida, os idosos seriam os mais frágeis diante de muitas situações, mas estamos vendo que nos revezes da vida tudo se modifica e não há foco de fragilidade… todos somos iguais…

Quando vemos a morte de perto, sendo a nossa ou do próximo, vemos o quanto tudo o que fazemos para “termos” não tem valor.

Então pensemos, o que seremos quando morrermos? Ou melhor, para os demais que ficam, como figuraremos nas emoções e lembranças deles?

O que sentirão por nós? Se é que terão tempo de sentir…

Sabemos que os que ficam tem de seguir em frente, afinal, a vida continua, mas como continuará?

Lembro-me como o luto era vivido diferente na época dos meus avós. Eram dias de silêncio, respeito, oração… O velório ocorria muitas vezes em casa onde todos se reuniam em família vinda de vários lugares, deixando todos os afazeres para passar as 24 horas de velório juntos, unidos no confortar de saber que estavam unidos mesmo sem nada falar… fotografias próximas a bíblia e a saudade no olhar marejado por meses…

Com o passar dos anos as mortes tornaram-se mais frequentes na frieza dos leitos de hospitais, em CTIs gélidos e solitários, em lugares com cada vez menos familiares, com velórios proibidos a noite devido a violência que assola a sociedade, deixando-nos ainda mais órfãos do carinho e do consolo.

A vida corrida faz com que o trabalho seja urgente e não nos faça viver o luto, muitas vezes com a desculpa de “ocupar a cabeça para não pensar”, mas o luto tem de ser vivido para ser absorvido e florescer em força, saudade e resiliência.

Chegamos ao ponto de ver na tv a menção sobre velórios virtuais onde as pessoas podem participar do momento fúnebre por meio de tela de celular.

Assim, seguimos tentando não sentir, tentando nos blindar, sem viver os sentimentos, com toda uma geração adormecida em fugas tecnológicas, toxicológicas e cheia de subterfúgios que acabam por sucumbir ao primeiro arranhão, posto que são da geração que o “mertiolate não arde”.

Mais uma vez diante de um dilema questiono: quando nos formos, o que sentirão os que ficam? Terão “tempo” de sentir? O luto será breve ou eterno? A vida terá seguimento normal?

Diante disto posiciono-me com uma certeza clara: “o que importa não é o que deixarmos para as pessoas, mas o que deixamos nas pessoas”.

Não saberemos o que será dos sentimentos alheios quando nos formos, mas se soubermos quem somos de verdade e buscarmos um significado para alicerçar coisas boas, deixaremos rastros de beleza em um mundo melhor.

Porque o que na verdade importa é o legado que deixamos!
Qual será o seu?

Michelle Carvalho

e-mail: michellecarvalhoadvogada@yahoo.com.br
Instagram: @michelle_carvalho_escritora
Facebook: Michelle Carvalho Escritora

Fonte:

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Michelle Carvalho

Biografia: Advogada, Escritora desde os 13 anos, com participação em inúmeras antologias literárias e premiações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ganhadora do Premio Baixada de Literatura em 2014. Lançou 4 livros: “Furor Letárgico da Alma” (2009), “Versos de Princesa Prometida” (2015 – na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro) e “Cindy Entre Patas e Reinos” (2018) e Cindy Entre Patas e Reinos 2 (2019 – 19ª Bienal Internacional do do Livro do Rio de Janeiro) , estes dois últimos projetos de leitura na Cidade das Artes/RJ, em várias escolas nacionais e internacionais. Além de diversas participações em projetos culturais literários em escolas com palestras motivacionais, intervenções literárias e poéticas em saraus, sendo o último deles o Programão Carioca da Rede Globo no ano de 2018, Participação na FLIM e FLISGO no ano de 2019, bem como posse na ACLAM – Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé.

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2 Comentários

  1. Ainda tem tempo. A mudança do egoísmo para a abnegação é agora. Aliás já foi ontem. Corramos. Obrigada por suas palavras . Ainda tem tempo.

    1. Temos tempo e iremos lutar para deixarmos um legado de amor e alegria, Corramos!

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