Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIA

O aguadeiro do Vintém ou as fontes do Bairro de Fátima

Série: Histórias de Arariboia

Os que conhecem Niterói sabem da importância que a cidade tem devido à qualidade da água, não é mesmo? No entanto, o que não parece tão nítido assim é a questão histórica desde muito ligada a isso. Exploração de manancial, e tem sempre alguém de olho na oportunidade. Sacie, então, a sua curiosidade sobre o Bairro de Fátima. Conheça essa parte da história do lugar e divirta-se.

Houve um tempo, quando o Bairro de Fátima era conhecido como Chácara do Vintém. Isso mesmo, muito antes de Niterói assumir a alcunha de Cidade Sorriso, os Jesuítas já consumiam as águas municipais. Fontes aquíferas de qualidade superior abundavam por estas paragens; bebia-se aos borbotões; criava-se o hábito de valorização do líquido essencial. Ou seja, tão logo a Companhia de Jesus se afastou da região, os moradores dos arredores passaram a beber mais e mais das minas também.

Pois é, Jesuítas e donos de propriedades à parte, ficou visto que carregar água ninguém queria. Trabalho pesado, sim, esforço físico. Comprar, receber e matar a sede em casa tornou opção plausível a quem pudesse pagar. Em vez de se lançarem ladeira acima com seus cântaros e potes com fins de captação, moradores de poderes aquisitivos superiores aceitaram a opção confortável. Maior conforto exige também seus pagamentos, não é? Aqueles carregadores de potes, tinas e cântaros lucravam com o trabalho, conseguiam seu dinheirinho. O comércio alavancou interesses locais. O ir e vir de gente carregando e vendendo. Apregoava-se em alto e bom tom nas primeiras ruas e vielas:

Olha a água do Vintém, melhor que ela não tem. Um tostão na padaria leva o pão, o que sobrar venha cá e tenha o líquido à mão.

E, assim, com esses versinhos insossos compostos sem erudição, ganhava-se a vida como “aguadeiro” de ladeira. O governo percebendo lucros, cresceu o olho. Quis para si o seu quinhão financeiro acerca das fontes. Malandragem, excelente maneira de angariar fundos com o que a terra nos dá. O poder governamental assumiu logo a administração das estâncias. Lucrou além da conta, impossível não lucrar.

Pois bem, acaso o leitor perceba certa semelhança histórica com os tempos atuais, acredite, isso não é coincidência. Compra-se água mineral da janela do ônibus. Sob o mantra “água mineral é só dois real”, assassinam a gramática e sustentam famílias. Porém, alguém sai ganhando bem mais que os outros aí. A natureza dá de fato o líquido precioso de graça. O homem em sua ambição não perde tempo e explora, mas explora o seu semelhante também.

Referência: CID, Lindalva Cavalcanti. (Org.) Niterói: Bairros. Niterói: CECITEC – Prefeitura de Niterói, 1996

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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