O aguadeiro do Vintém ou as fontes do Bairro de Fátima
Série: Histórias de Arariboia
Os que conhecem Niterói sabem da importância que a cidade tem devido à qualidade da água, não é mesmo? No entanto, o que não parece tão nítido assim é a questão histórica desde muito ligada a isso. Exploração de manancial, e tem sempre alguém de olho na oportunidade. Sacie, então, a sua curiosidade sobre o Bairro de Fátima. Conheça essa parte da história do lugar e divirta-se.
Houve um tempo, quando o Bairro de Fátima era conhecido como Chácara do Vintém. Isso mesmo, muito antes de Niterói assumir a alcunha de Cidade Sorriso, os Jesuítas já consumiam as águas municipais. Fontes aquíferas de qualidade superior abundavam por estas paragens; bebia-se aos borbotões; criava-se o hábito de valorização do líquido essencial. Ou seja, tão logo a Companhia de Jesus se afastou da região, os moradores dos arredores passaram a beber mais e mais das minas também.
Pois é, Jesuítas e donos de propriedades à parte, ficou visto que carregar água ninguém queria. Trabalho pesado, sim, esforço físico. Comprar, receber e matar a sede em casa tornou opção plausível a quem pudesse pagar. Em vez de se lançarem ladeira acima com seus cântaros e potes com fins de captação, moradores de poderes aquisitivos superiores aceitaram a opção confortável. Maior conforto exige também seus pagamentos, não é? Aqueles carregadores de potes, tinas e cântaros lucravam com o trabalho, conseguiam seu dinheirinho. O comércio alavancou interesses locais. O ir e vir de gente carregando e vendendo. Apregoava-se em alto e bom tom nas primeiras ruas e vielas:
— Olha a água do Vintém, melhor que ela não tem. Um tostão na padaria leva o pão, o que sobrar venha cá e tenha o líquido à mão.
E, assim, com esses versinhos insossos compostos sem erudição, ganhava-se a vida como “aguadeiro” de ladeira. O governo percebendo lucros, cresceu o olho. Quis para si o seu quinhão financeiro acerca das fontes. Malandragem, excelente maneira de angariar fundos com o que a terra nos dá. O poder governamental assumiu logo a administração das estâncias. Lucrou além da conta, impossível não lucrar.
Pois bem, acaso o leitor perceba certa semelhança histórica com os tempos atuais, acredite, isso não é coincidência. Compra-se água mineral da janela do ônibus. Sob o mantra “água mineral é só dois real”, assassinam a gramática e sustentam famílias. Porém, alguém sai ganhando bem mais que os outros aí. A natureza dá de fato o líquido precioso de graça. O homem em sua ambição não perde tempo e explora, mas explora o seu semelhante também.
Referência: CID, Lindalva Cavalcanti. (Org.) Niterói: Bairros. Niterói: CECITEC – Prefeitura de Niterói, 1996