Fabio Rodrigo

Na rua

Quem me conhece sabe que não sou muito afeito a pesquisas de nomes de rua em aplicativos de celular. Prefiro pedir informação diretamente às pessoas. Gosto mesmo é de um tête-à-tête, de um vis-à-vis. Ou na mais pura linguagem coloquial: de um olho no olho, de um cara a cara. O contato com os outros é que nos faz bem. Mesmo que nos custe um pouco mais de tempo para encontrar o que procuramos…

‒ O senhor pode me informar onde fica a rua Antônio dos Santos Zaqueu? ‒ perguntei a um peixeiro na calçada. Ele deixou de atender seu cliente que estava escolhendo o peixe e respondeu:

‒ Rapaz, essa rua não me é estranha. ‒ e gritou para o amigo jornaleiro: ‒ Seu Nelson, onde é que fica a rua Antônio dos Santos Zaqueu? Explica aí pro rapaz! Essa é a rua que mora seu Genivaldo?

‒ Não. A rua de seu Genivaldo é a Sebastião Lacerda… eu tenho pra mim que depois dela vem a Antônio dos Santos Zaqueu…

‒ Essa que o senhor está pensando é a Dr. Rabelo. É a que eu moro. ‒ respondeu uma senhora que aguardava no ponto de ônibus. A Antônio dos Santos Zaqueu eu acho que é mais lá pra frente. ‒ continuou: ‒ não é a rua daqueles rapazes…?

‒ Dos gêmeos? ‒ perguntou o jornaleiro.

‒ Não. A dos gêmeos é a rua Maria Eugênia. ‒ disse a senhora. ‒ Eu tenho pra mim que é a rua onde moram os filhos do falecido seu Anastácio.

‒ Isso mesmo. É a rua do falecido seu Anastácio. ‒ disse o peixeiro.

‒ Não. O senhor está enganado… ‒ disse um senhor que prestava atenção em toda a conversa enquanto esperava o ônibus. ‒ A rua do falecido seu Anastácio é a rua Manoel Carneiro. Os dois filhos dele moram na rua seguinte, que eu acho que é a que o rapaz está procurando.

O jornaleiro já foi logo me explicando: ‒ Você vai direto e dobra na sexta rua à direita. Na esquina tem um…

‒ Depósito de bebida. ‒ disse o senhor que esperava o ônibus.

‒ Não. Um açougue. O depósito de bebida é bem depois. ‒ corrigiu a senhora.

Depois disso, virou uma discussão entre o senhor, a senhora, o jornaleiro, o peixeiro… ninguém entrava em acordo se era a rua do açougue ou do depósito de bebida que eu deveria entrar.  Enquanto eles discutiam, eu aguardava a definição.

Depois de algum tempo, ainda não haviam entrado em acordo com relação à rua. Resolveram me perguntar:

‒ O que você procura nesta rua?

Eu disse que estava à procura de uma rádio comunitária.

‒ A rádio? Se eu soubesse que você estava à procura da rádio já teria dito a você. Olha bem, meu filho, você vai direto e dobra na… na… na nona rua à esquerda. ‒ disse a senhora.

E, quando eu pensei que finalmente tinham chegado a um acordo, a discussão continuou:

‒ Nona não. Oitava. ‒ disse o jornaleiro.

E o peixeiro perguntou:

‒ Não é sétima?

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Fabio Rodrigo

Fábio Rodrigo é professor de Língua Portuguesa da secretaria de educação do estado do Rio de Janeiro e é doutorando em Língua Portuguesa pela UFRJ. Recentemente adquiriu o título de mestre em Estudos Linguísticos pela UERJ/FFP. Tem se dedicado a escrever crônicas que abordam temas do cotidiano e sua relação com a língua portuguesa e que são publicadas semanalmente no jornal Daki e no portal Entre Poetas e Poesias. Seu primeiro livro, Mixórdia e outras histórias, lançado pela editora Apologia Brasil, é uma coletânea de crônicas publicadas tanto no Daki quanto no portal. Suas crônicas, em sua maioria, são ambientadas no município de São Gonçalo, cidade em que o escritor nasceu e em que trabalha como professor. Como professor de Língua Portuguesa, Fábio Rodrigo procura aproximar o conteúdo das aulas de Português ao dia a dia, e seus textos são o resultado disso.

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