Fabio Rodrigo

Coleguinha de trabalho

Ela era recém-contratada para ocupar a vaga de gerente administrativa. Está há mais ou menos um mês na empresa. Um dia, chegando ao trabalho, subimos juntos no elevador. Muito simpática, puxou assunto comigo. Mostrou que já tinha conhecimento sobre mim, enquanto eu nem sabia ainda o seu nome. Rasgou elogios sobre o meu projeto que venho desenvolvendo com minha equipe. Agradeci a ela, contente. Ao sairmos do elevador, parei para observar melhor suas pernas bem torneadas.

            A empresa passa por um período bem conturbado financeiramente. Vários funcionários já foram demitidos. Nas reuniões com os patrões, o clima é bem tenso, pois põem sob nossa responsabilidade o futuro da empresa. Nesta última reunião, sempre que eu apresentava uma proposta, ela abria um sorriso pra mim.  Nas redes sociais, todas as minhas postagens eram curtidas por ela. Na minha lista de e-mails, havia vários enviados por ela. Alguns com assuntos de trabalho e outros com mensagens motivacionais. Seja por escrito ou não, ao se dirigir a mim, usa vocativos, como “querido”, e despedidas com “beijinhos”. Abre mão da formalidade comigo apesar de nos conhecermos a tão pouco tempo.

No dia seguinte, me perguntou por que não havia me encontrado no restaurante que costumo almoçar. Respondi que impreterivelmente tive que resolver um problema pessoal e que, por isso, almocei em outro restaurante. Que pena, ela respondeu. Disse que almoçou sozinha e que prefere almoçar junto com alguém. Mas mostrou preocupação comigo. Disse que, no que fosse preciso, poderia contar com sua ajuda.

Ela está cursando pós-graduação em gestão empresarial. Vi em sua página nas redes sociais. Mas procurei não demonstrar a ela que sabia. Antes de iniciarmos a reunião semanal com os supervisores, me disse que está com muita vontade de ir ao cinema ver o novo filme do Darín. Como que ela sabe que sou fã dele?! Respondi que já assisti com minha esposa. Fiquei esperando uma resposta de sua parte. Apenas sorriu. E começamos a reunião.

À noite, antes de dormir, vejo em meu celular uma mensagem enviada por ela. Me pediu que no dia seguinte eu chegasse mais cedo; estaria me aguardando em sua sala. Precisava comunicar-me algo. Fiquei surpreso com seu convite. Fui dormir tentando imaginar o que poderia ser. Como de costume, cheguei cedo, trinta minutos antes do horário, e fui imediatamente para a sala dela. Me recebeu muito bem em sua mesa. Foi direto ao assunto, dizendo que irá abrir sua própria empresa e me convidou para ser seu sócio. Minha reação foi um misto de alívio e de empolgação. Me explicou que tenho o perfil ideal para tocar o negócio com ela. Apresentou pra mim alguns detalhes de seus planos. Respondi que iria estudar sua proposta e que daria uma resposta em breve. Antes de sair de sua sala, dei um até logo e ela abriu um largo sorriso pra mim. 

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Fabio Rodrigo

Fábio Rodrigo é professor de Língua Portuguesa da secretaria de educação do estado do Rio de Janeiro e é doutorando em Língua Portuguesa pela UFRJ. Recentemente adquiriu o título de mestre em Estudos Linguísticos pela UERJ/FFP. Tem se dedicado a escrever crônicas que abordam temas do cotidiano e sua relação com a língua portuguesa e que são publicadas semanalmente no jornal Daki e no portal Entre Poetas e Poesias. Seu primeiro livro, Mixórdia e outras histórias, lançado pela editora Apologia Brasil, é uma coletânea de crônicas publicadas tanto no Daki quanto no portal. Suas crônicas, em sua maioria, são ambientadas no município de São Gonçalo, cidade em que o escritor nasceu e em que trabalha como professor. Como professor de Língua Portuguesa, Fábio Rodrigo procura aproximar o conteúdo das aulas de Português ao dia a dia, e seus textos são o resultado disso.

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