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Série: Quarenta, é sério? – Cap.#05 – Crônica: “A visita inesperada” – Renato Cardoso

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Série: Quarenta, é sério? – Cap.#05 – Crônica: “A visita inesperada” – Renato Cardoso

 

Nota do autor: Esta história que será contada aqui neste capítulo, deveria fazer parte de uma outra obra que estou desenvolvendo, mas como está ligada minha internação, vou conta-la aqui mesmo. Uma história que mexe com a crença viva em cada um de nós. Ao final da leitura, tire suas conclusões, mas, acima de tudo, respeite a minha.

 

Assim que Seu Carlos chegou à enfermaria nós batemos um papo, nos apresentamos. Como já estava tarde, paramos por aí. A enfermeira entrou com o nosso jantar. Uma deliciosa sopa nos foi servida. Aliás, dizem que comida de hospital é ruim, mas de onde fiquei a comida era ótima.

Jantamos em silêncio. Sentia que o corpo estava mais tranquilo, já começava a ver melhora significativa. A respiração estava mais fácil, a ansiedade mais controlada, o emocional entrando nos eixos (sem dúvidas a visita da psicóloga começava a fazer efeito). A profissional de saúde entrou novamente, desta vez para retirar as bandejas.

O corredor estava agitado, mas dentro da enfermaria reinava uma certa paz. A luz estava apagada e a única forma de luminosidade era a que vinha de fora. Naquele momento, acreditava que Seu Carlos estava tirando um cochilo. Eu ainda não conseguira, ainda não tinha sido medicado para isto. Prometeram-me que somente às 23h me seria dado o remédio.

Peguei um cobertor, tentei montar um travesseiro com ele, pois tinha que seguir as instruções do fisioterapeuta, que era dormir de lado. Eu estava ligado ao aparelho que media minha saturação, pressão, batimentos, além do soro e do oxigênio (tinha bastante fios em mim). Montar um simples travesseiro durou um tempo significativo, mas consegui.

Tentei relaxar até a hora da ceia e da medicação. Fechava os olhos, rezava, tentava meditar. Buscava um reencontro com Deus. Repensava em tudo que tinha feito e sido até o momento. Dizem que é nos momentos de dor, que refletimos e buscamos a mudança interna. Minha preocupação estava na família em casa. Não sabia com as coisas estavam se saindo.

Em um breve momento, senti meu corpo relaxar por completo, mas não adormeci, estava totalmente consciente. Escutava tudo que se falava no corredor. Fechei os olhos, e como um passe de mágica, um clarão se fez na minha mente. Nunca havia experimentado tal situação. Meus olhos não abriram. Concentrei-me.

Num simples momento, num lampejo, segundos que durariam eternos, eu vi saindo do clarão uma senhorinha e um senhor alto, que a segurava pelos braços. Notava que a senhorinha estava com dificuldades para andar e que usava uma bengala. Não conseguia identificar nenhum dos dois e nem sabia explicar o que estava acontecendo.

Foi então que escutei bem baixinho no meu ouvido: “Calma, Tan-Tão”. Pronto! Não tinha mais dúvidas, era ela sim. Minha saudosa e querida avó veio me visitar, me tranquilizar. E completou: “Vai dar tudo certo, você é forte”. Senti uma lágrima sair dos meus olhos (da mesma maneira que sai enquanto conto esta história para vocês).

A minha ligação com ela sempre foi muito intensa. Morei com ela do meu nascimento até meu casamento. Foram 27 anos de cumplicidade. Ela havia falecido meses antes, vítima de diversas complicações, inclusive Covid. Aquele instante, me provou que ela fez o que faria em vida, o que sempre fez, me proteger.

A saudade era tão grande que busquei me concentrar cada vez mais, só que o clarão sumiu e ela também. Meu coração transbordava felicidade, mas optei pelo silêncio, não sabia como os demais entenderiam a situação. A determinação em melhorar aumentou, pois lembrava de tudo que ela me falava quando morávamos juntos (esses momentos estão sendo contado em outro livro, que está sendo produzido no momento em que escrevo isto).

Quando voltei para casa, contei a história somente para minha esposa. Procurei não falar para os meus pais, pois eles ainda estavam fragilizados pelo falecimento dela. Aquele momento ficou eternamente gravado no meu coração. Foi a certeza de que nossos entes queridos olham por nós mesmo depois de falecidos. Foi um sinal que Deus me enviou, dizendo para confiar.

Tempos mais tarde, já em casa e recuperado, minha mãe me ligou e me falou que meu pai tinha sonhado com minha avó. Curioso, perguntei como foi. Ela descreveu que minha avó aparecia para ele, junto a um senhor alto que a amparava, mandando meu pai levá-la ao médico. Igual ao que aconteceu no hospital. Só depois que ela finalizou que contei que aconteceu o mesmo comigo.

Como disse na nota do autor, este capítulo vai da crença de cada um. Crença é crença e cabe a cada um de nós o respeito.

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Renato Cardoso

Renato Cardoso é casado com Daniele Dantas Cardoso. Pai de duas lindas meninas, Helena Dantas Cardoso e Ana Dantas Cardoso. Começou a escrever em 2004, quando mostrou seus textos no antigo Orkut. Em 2008, lançou o primeiro volume de “Devaneios d’um Poeta” e em 2022, o volume II com o subtítulo "O Rosto do Poeta". Graduado em Letras pela UERJ FFP e graduando em História pela Uninter. Atua como professor desde 2006 na rede privada. Leciona Língua Inglesa, Literatura, Produção Textual e História em diversas escolas particulares e em diversos segmentos no município de São Gonçalo. Coordenou, de 2009 a 2019, o projeto cultural Diário da Poesia, no qual também foi idealizador. Editorou o Jornal Diário da Poesia de 2015 a 2019 e o Portal Diário da Poesia em 2019. É autor e editor de diversos livros de poesias e crônicas, tendo participado de diversas antologias. Apresenta saraus itinerantes em escolas das redes pública e privada, assim como em universidades e centros culturais. Produziu e apresentou o programa “Arte, Cultura & Outras Coisas” na Rádio Aliança 98,7FM entre 2018 e 2020. Hoje editora a Revista Entre Poetas & Poesias e o Suplemento Araçá.

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