Bons tempos, aqueles!
Sempre gostei muito de viajar. Não podia aparecer um feriadão que lá estava eu na estrada, com as janelas abertas, sentindo o vento bater no meu rosto, um olho na estrada e o outro na paisagem. Minha esposa dizia que eu ia acabar ficando vesgo. Eu nem ligava. Caso eu ficasse vesgo, enxergaria com os olhos da alma.
E lá íamos nós, com destino a mais um pedaço do Paraíso. Aqui no Ceará há lugares que se Deus tiver feito algum mais bonito ficou com ele lá por cima. Temos de tudo: falésias, montanhas, praias lindíssimas de encantar até quem já mora lá há vários anos. Imagine o turista. Fica doido!
Sempre que conheço um lugar novo, digo: “Daqui a uns dias volto aqui”. Mas lá se vem outro lugar mais bonito, e outro mais bonito, e outro ainda mais bonito, e nunca que retorno. Mas há uma praia à qual sempre volto: Canoa Quebrada. Já estive lá quase dez vezes, e confesso que estou com vontade de ir de novo.
Quando pego aquela estrada em direção a Aracati, minha alma só falta sair do meu corpo. A paisagem é maravilhosa. E o melhor: vou parando aqui e acolá, conhecendo cada lugar pelo caminho: engenhos, museus, casarões antigos, vendinhas, pracinhas, e o que mais tiver de interessante.
As praias são meu destino preferido. Depois delas, as serras e qualquer outro lugar turístico. O que importa mesmo é sair de casa e conhecer um lugar novo. Apesar de Canoa Quebrada ser meu destino preferido, gosto de conhecer outras praias, outros recantos. Por aqui é só o que tem: Jeri, Canoa, Lagoinha, Lagoa do Timbau, Morro Branco, Ponta Grossa, Cumbuco… é uma imensidão de lugares lindos!
Mas o tempo foi passando e as condições foram mudando. Não as condições climáticas, mas aquelas que deixam todo turista fazendo contas e cortes. A inflação engolindo tudo, a gasolina indo às alturas e a gente dando, no máximo, um rolezinho na praça da matriz.
O Natal está chegando. As férias também. A vontade de viajar mexe com a gente, cutuca, implora. Aí lá vou eu refazer as contas. Corta daqui, recorta de lá… e pra acabar de completar um amigo liga:
– E aí, vamos passar o natal em Guaramiranga? Lá não tem praia, é serra, mas é daqueles lugares que você chora quando tem que voltar pra casa.
– É uma boa pedida. Já ouvi falar – respondi.
O colega falou das maravilhas desse lugar e me mandou pesquisar na internet, caso eu quisesse ver fotos, o preço das pousadas, as atrações, a paisagem… e me indicou um ótimo site de turismo. Foi o que fiz. O lugar é um paraíso, mas os preços estavam mais para, no mínimo, o purgatório.
Logo liguei de volta pro meu amigo:
– E aí? – respondeu ele do outro lado, empolgadíssimo. – Conferiu? Gostou?
– Adorei tudo. Mas estou te ligando pra que você me indique um ótimo site de anúncios.
– O que houve? – quis saber o amigo, sem entender nada.
– Quero colocar o meu carro à venda. A gasolina subiu de novo. E com o preço do jeito que está, não consigo chegar nem à metade do caminho.
A ligação caiu. Tentei ligar outra vez. E me veio aquela mensagenzinha irritante:
“Seu saldo é insuficiente para completar a sua ligação!”
Bons tempos, aqueles!
Foto: Arquivo do autor